Primeiro-ministro não chamou piegas aos portugueses. Apelou a que arregaçassem as mangas. Não perceber isto é pôr a cabeça na areia.
Pedro Passos Coelho escandalizou a esquerda por ter aconselhado, numa visita a uma escola, os alunos, os professores e os portugueses em geral a trocarem a pieguice pela exigência. Já não se devem lembrar das inúmeras presidências abertas feitas por Jorge Sampaio contra a lamúria. Na altura, ninguém se indignou.
A mensagem não é muito diferente. A conjuntura é outra, sem dúvida. O país está mais sacrificado e as pessoas muito mais sensíveis. Mas só uma enorme demagogia política pode justificar a forma como os partidos da oposição tentaram usar o discurso do primeiro-ministro para indignar a opinião pública.
Passos não chamou piegas aos portugueses. Aconselhou-os a arregaçarem mangas e a serem exigentes. Ele sabe, provavelmente melhor do que ninguém, que ou o país se prepara para enfrentar uma realidade que é dura ou arrisca-se a sofrer mais.
O exemplo da Grécia é real. Portugal não é a Grécia, mas Portugal e a Grécia integram a mesma Europa. E a situação não está para brincadeiras.
Quando percorreu o país numa cruzada contra a lamúria, o então Presidente Sampaio, um homem de esquerda, tentou puxar pelo que de melhor há no país e combater o pessimismo.
Na altura, o problema já era o desequilíbrio das nossas finanças e a pobreza da nossa economia. Mas o desastre ainda ia no adro.
Agora, com a Grécia a um passo de sair do euro e Portugal sem garantias de não sofrer o contágio, Pedro Passos repete a receita contra a pieguice, que é como quem diz, contra a lamúria.
Não perceber isto é pôr a cabeça na areia. A última experiência política de fuga à realidade é recente. E acabou mal.