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ANO DA VIDA CONSAGRADA

“Sou como o Papa Francisco, não me faz bem viver sozinho”

30 nov, 2014 • Angela Roque

José Filipe Rodrigues tem 39 anos de idade e é frade dominicano há 15. Em entrevista ao programa “Princípio e Fim” deste Domingo, a propósito do novo Ano da Vida Consagrada, fala do que o levou a deixar o seminário para ir para o convento.  

José Filipe Rodrigues soube desde cedo que queria ser padre. Na adolescência já colaborava de forma bastante activa na paróquia de Marvila, em Lisboa, e quando acabou o crisma o prior encaminhou-o para o seminário de Almada. Mas, dois anos e meio depois percebeu que ser padre num paróquia implicava um isolamento que não queria: “comecei a perceber que a vida comunitária me fazia falta. Não tive medo, é um bocado como o Papa Francisco, não me faz bem viver sozinho”, explica.

A Ordem dos Pregadores surgiu-lhe como a solução perfeita: “Foi no contacto com os dominicanos que percebi que podia ser padre, fazer uma das coisas que mais gosto que é pregar, falar do Evangelho às pessoas, e viver em comunidade. Mas o principal foi isto, querer passar a minha vida com irmãos que temos todos o mesmo objectivo, vivermos o Evangelho e anunciá-lo”.

Frei Filipe Rodrigues diz que nunca se arrependeu da escolha porque “foi uma opção consciente, pensada e crivada”. Até porque nos dominicanos há um princípio democrático que valoriza muito: “Somos votados antes de ser admitidos, a comunidade pronuncia-se, por voto, se nós devemos ou não avançar”. Como responsável provincial pela animação e acompanhamento vocacional dos candidatos à Ordem do Pregadores diz sempre a quem quer entrar para os dominicanos: “Sejam verdadeiros e dispostos a partilhar a vida”.

Frei Filipe garante que pode haver crise de vocações, mas não há crise de candidatos: “Ficam é pelo caminho”. Diz que às vezes há desmotivação e desencanto porque há a ideia de que “os frades e os padres têm de ser as pessoas mais perfeitas do mundo. Não, não somos melhores, temos é compromissos e temos de fazer mais esforços para ser cada vez mais transparentes na vivência do Evangelho. Esse é que é o critério”.

Mas, o que é que falha para que não haja mais vocações? Em sua opinião: “Falha sobretudo o acompanhamento”, para além de vivermos “uma crise de realismo” que impede que se definam bem as prioridades: “O problema das congregações religiosas também é este, somos poucos, cada vez mais velhos, mas com as mesmas obras. Temos muita dificuldade em fechar uma casa, um colégio, em deixar um hospital onde sempre trabalhámos. Ora, se temos vocações novas, das duas uma, ou abdicamos das coisas que temos para nos dedicarmos aos mais novos, e isso é que é o futuro e a esperança, ou continuamos com as mesmas coisas e os mais novos sentem-se perdidos”.

Sublinha ainda que o problema da falta de vocações “Não é o problema de desaparecermos, é o Evangelho não estar a chegar aos sítios, por falta de gente. Não é uma questão de número, é de objectivo, qual é o objectivo? É anunciar o Evangelho, se não temos mãos de obra, gente que entregue a sua vida por causa do Evangelho, o que se está a perder é a mensagem”.

Frei Filipe Rodrigues celebra na paróquia da igreja do convento de São Domingos, onde vive, e colabora na paróquia do Campo Grande. É ainda capelão do Externato Marista de Lisboa e do Hospital da Luz e Assistente Espiritual da Ajuda de Berço. Para além de ser o responsável provincial pelo acompanhamento vocacional dos que querem entrar para os dominicanos, preside à Comissão Litúrgica Internacional da Ordem dos Pregadores, com sede em Roma.

Esta é uma entrevista que pode ouvir no programa “Princípio e Fim”, este domingo a partir das 23h30, na Renascença, onde um dos destaques será o novo Ano da Vida Consagrada que começou este Domingo.