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Reportagem

Com "farta rapazes" as Janeiras têm outro sabor

06 jan, 2015 • Liliana Carona

Esta terça-feira é dia de Reis e em muitas aldeias do concelho de Seia manda a tradição que os rapazes batam às portas das casas a pedir "farta rapazes".

Na casa de Maria de Lurdes há "farta rapazes" por todo o lado, da arca congeladora aos armários. Não quer ser apanhada desprevenida, quando eles, os rapazes, baterem à porta.

Estão aí as Janeiras e, ainda que com menos jovens, na aldeia de Sameice, no concelho de Seia, no distrito da Guarda, a tradição de bater à porta a pedir os "farta rapazes" ainda dura.

"Vinham aqui os rapazes da idade dos meus filhos, dávamos-lhe bolos, iam consoladinhos da minha casa na época das Janeiras. Não tinha queijo para lhes dar, mas comiam os bolos", conta Maria de Lurdes, de 68 anos.

Os "farta rapazes" não são mais do que biscoitos. Maria tem a receita na ponta da língua e, perante a presença da Renascença, disse que os fazia numa instante. Dito e feito.

Ela explica a teoria: "partir meia dúzia de ovos, uma chávena de azeite, uma chávena de leite, meio quilo de açúcar. Batemos bem e depois deitamos farinha até vermos que está bom para se tender".

Além dos "farta rapazes", também as broinhas de batata são oferecidas por esta altura do ano em Sameice.

Otília Pinto, de 60 anos, vai fazendo broinhas, que guarda em latas. Conhece a receita melhor que ninguém, assegura. Diz que passou de geração em geração – a sua mãe e avó também faziam.

"É um quilo de batata, duas cenouras, cozem-se, passam-se pelo passe-vite, levam sal, e depois seis ovos, um quilo de açúcar, um quilo de farinha e bate-se tudo muito bem", descreve.

Depois de irem ao forno a lenha, as broinhas e os farta-rapazes estão prontos para oferecer a quem bate à porta. A tradição cumpre-se.