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Governador denuncia financiamento fraudulento no GES

03 ago, 2014

Carlos Costa sublinha que "esquemas deste tipo são muito difíceis de detectar" e defende actuação do Banco de Portugal.

Governador denuncia financiamento fraudulento no GES
O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, denuncia a existência de um esquema de financiamento fraudulento no Grupo Espírito Santo (GES), com implicação na situação do Banco Espírito Santo (BES).

“O Grupo Espírito Santo, através das suas entidades não financeiras não sujeitas a supervisão do Banco de Portugal, desenvolveu um esquema de financiamento fraudulento entre as empresas do grupo”, afirmou Carlos Costa, este domingo, numa declaração aos jornalistas onde anunciou uma injecção de capital de 4.900 milhões no Banco Espírito Santo.

O governador salienta que “esquemas deste tipo são muito difíceis de detectar antes de entrarem em ruptura”, nomeadamente “quando a actividade é desenvolvida em várias jurisdições”.

O Banco de Portugal, explica, conseguiu “identificar uma ponta do problema” em Setembro de 2013, aquando da realização de uma “acção de inspecção que foi para além do perímetro normal de supervisão”, a empresas não financeiras do GES que “constituem os principais clientes do banco”.

Detectadas as irregularidades, o banco central “iniciou uma política de isolamento de riscos” do BES em relação às restantes empresas” do Grupo Espírito Santo, uma política que foi “reforçada no último ano”.

“Foi no quadro  de aperto do cerco que as empresas do Grupo Espírito Santo começaram a entrar em incumprimento”, concluiu Carlos Costa, que desta forma procurou defender a actuação do Banco de Portugal.

"Risco muito elevado de contágio"
Carlos Costa anunciou este domingo à noite uma injecção de capital de 4.900 milhões de euros no Banco Espírito Santo, um banco novo que se vai chamar "Novo Banco" e a saída do mercado do Banco Espírito Santo.

Numa declaração à comunicação social, Carlos Costa confirmou que a injecção de capital no BES será feita através do Fundo de Resolução da banca, que se irá tornar accionista do novo banco.

"O agravamento dos resultados do BES resulta de um conjunto de actuações que violaram as determinações do Banco de Portugal", disse o governador, numa referência às perdas de 3.600 milhões registadas no primeiro semestre do ano.

A avaliação das responsabilidades individuais, incluindo de Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, vai ter lugar no contexto da auditoria forense em curso. Se houver ilícitos serão extraídas consequências de natureza contra-ordenacional e criminal, declarou o governador.

Carlos Costa fala em "evidência de falhas de controlo e de gestão danosa".

O governador justifica a intervenção, sublinha que a situação no BES representa um "risco muito elevado de contágio que punha em causa o sistema financeiro".

Se não tivesse havido uma acção do Banco de Portugal, "no sentido de isolar o BES da persistência de práticas indesejáveis, o problema teria sido pior", defendeu Carlos Costa.