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"Maior parte do dinheiro das elites angolanas está manchado de sangue”

02 fev, 2013 • Maria João Costa

Escritora Dulce Maria Cardoso mostra-se preocupada com a questão dos direitos humanos e com o facto de muitas empresas portugueses estarem agora nas mãos do capital angolano.

"Maior parte do dinheiro das elites angolanas está manchado de sangue”

A maior parte do dinheiro do investimento angolano é “manchado de sangue”. A acusação é feita por Dulce Maria Cardoso.  A autora do livro “O retorno” foi a entrevistada do programa da Renascença “Ensaio Geral” desta semana, realizado na livraria Ferin, no Chiado  em Lisboa.

Questionada sobre Angola, o país onde viveu, Dulce Maria Cardoso mostra-se sobretudo preocupada com a questão dos direitos humanos e com o facto de muitas empresas portugueses estarem agora nas mãos do capital angolano.

“A compra de uma série de empresas e de uma série de órgãos de comunicação por parte de investidores angolanos, aí também é uma vergonha muito grande, porque tem que se perceber uma coisa: é que a maior parte do dinheiro angolano, vindo das elites angolanas, é um dinheiro manchado de sangue, não só dos diamantes”, acusa.

Na opinião da escritora, Angola é um “país onde os direitos fundamentais não estão assegurados, de todo, onde a população é muito pobre e os governantes, uma elite, estão sempre nas listas dos homens mais ricos do mundo”.

Dulce Maria Cardoso manifesta-se também preocupada com o facto da sua editora Bárbara Bulhosa ter sido constituída arguida, por ter publicado em Portugal o livro “Diamantes de Sangue - Tortura e Corrupção em Angola", do jornalista Rafael Marques.

A editora da Tinta-da-China foi ouvida, na quinta-feira, no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, e ficou obrigada ao termo de identidade e residência. O livro, que denuncia casos de corrupção, levou um grupo de generais angolanos a moverem uma acção contra Rafael Marques, no qual Barbara Bulhosa é co-arguida.

Na entrevista ao programa “Ensaio Geral” da Renascença, a escritora Dulce Maria Cardoso, também editada pela Tinta-da-China, diz que as queixas devem ser investigadas, mas teme que a justiça não esteja a funcionar .

“Eu gostaria de pensar, porque enquanto, que é o Estado de Direito a funcionar e que é a justiça a funcionar, infelizmente, basta olharmos para o Duarte Lima, para o Isaltino Morais, para os BPN’s… quando há estes casos nós já não sentimos que é a justiça a funcionar e ficamos muito preocupados.”

Histórias infantis, contos e um romance
Contos para crianças será o próximo livro que a escritora Dulce Maria Cardoso irá lançar. A autora que venceu em 2009 o Prémio da União Europeia de Literatura em 2009 prepara entretanto um novo romance. 

Depois de em 2011 ter lançado o livro “O Retorno”, sobre os retornados de Angola,  Dulce Maria Cardoso trabalha também numa colectânea de contos.

“O que vai sair a seguir são histórias infantis que eu escrevi para a RTP e que agora vão ficar em livro, pela Tinta-da-China. Depois não sei se vem primeiro os contos ou o romance, ainda não decidimos.”

Dulce Maria Cardoso foi a entrevistada desta semana do "Ensaio Geral". O programa de cultura da Renascença regressa à livraria Ferin, no Chiado, no próximo dia 1 de Março; o convidado especial é o escritor e crítico literário Pedro Mexia.