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Falar Claro

Presidenciais. Sarmento critica Marcelo e elogia Santana

06 jan, 2015 • José Pedro Frazão

Santana "faz o que Marcelo nunca faz: surge de peito aberto", diz o social-democrata à Renascença. Marcelo é candidato? "Isso nem o próprio Marcelo consegue responder."

Presidenciais. Sarmento critica Marcelo e elogia Santana
Santana "faz o que Marcelo nunca faz: surge de peito aberto", diz o social-democrata à Renascença. Marcelo é candidato? "Isso nem o próprio Marcelo consegue responder."
Farpas a Marcelo Rebelo de Sousa e elogios discretos a Pedro Santana Lopes. A corrida a Belém aquece à direita e Nuno Morais Sarmento, antigo ministro de Durão Barroso, aproveita o comentário à mensagem de Ano Novo do Presidente da República para avaliar a forma como os "presidenciáveis" do seu partido se posicionam na grelha de partida.

"Aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa fez, mais do que comentar o discurso do Presidente, foi claramente falar como um possível candidato nas próximas eleições presidenciais", diz Morais Sarmento no programa Falar Claro da Renascença, onde todas as segundas-feiras debate a actualidade política com Vera Jardim.

O antigo ministro critica Marcelo por demarcar-se do estilo de Cavaco com um comentário que mistura elogios e virulência.

"Marcelo não faz as coisas por acaso", diz Sarmento, que pensa que o comentador deu na TVI um passo mais em direcção a uma candidatura.

Temos mesmo candidato? "Isso nem o próprio Marcelo consegue responder, quanto mais qualquer outra pessoa sobre Marcelo", graceja Sarmento para a seguir marcar distâncias com o outro presidenciável na esfera do PSD: o ex-primeiro-ministro Santana Lopes.

"Se vir depois as declarações de Pedro Santana Lopes, percebe o dueto que aqui vai. Pedro Santana Lopes, inteligentemente, faz o que Marcelo nunca faz: surge de peito aberto e o seu adversário é António Guterres e é sobre António Guterres que ele fala. Marcelo elogia António Guterres, critica Cavaco Silva".

Três candidatos à direita?
Para Morais Sarmento, está encontrada a dupla de possíveis candidatos na área do centro-direita. Mas o antigo ministro, muito próximo de Durão Barroso e dado como apoiante da reentrada de Rui Rio na política activa, admite que uma terceira personalidade pode vir a surgir na corrida, em caso de crise do sistema.

"Pode perfeitamente surgir uma terceira figura à direita. Isso só acontecerá se a situação política se alterar para lá daquilo que prevemos. Se tivermos uma situação de crise na oposição ou no Governo, entre os partidos actores políticos, pode ser que o leque se alargue. Se as coisas correrem como é expectável que corram, com um Governo até ao final da legislatura – seja quando for – e a oposição a fazer o seu caminho normal, penso que à direita temos fechado o leque de candidatos", atira.

Já Vera Jardim, antigo ministro socialista e apoiante da solução Guterres, não tem dúvidas. "Pedro Santana Lopes apresentará a sua candidatura e naturalmente não muito tarde. Santana Lopes vai ser mesmo o primeiro a apresentar a sua candidatura. Há sinais disso, talvez nos próximos tempos tenhamos notícias", diz o socialista.

Esperar por Guterres até Outubro
Do lado socialista permanece a incógnita sobre a disponibilidade de António Guterres, nome falado para se manter na ONU ou mesmo para subir na hierarquia da organização sediada em Nova Iorque.

Vera Jardim considera que Guterres é alguém que pode chegar à corrida no Outono. "Guterres é um candidato sobejamente conhecido. Não desapareceu de cena, toda a gente o conhece no país. Pode chegar em cima da meta? Sim, pode chegar em Outubro, por aí".

Morais Sarmento aproveita a deixa para criticar essa opção e elogiar Santana Lopes pela forma como este assinala que uma candidatura a Belém não pode ser uma segunda escolha de carreira. "Se queremos dar sentido à função, se queremos guardar para o Presidente da República um papel referencial e independente do partido e da solução que sai das eleições legislativas de Outubro, faz sentido que a declaração individual de candidatura aconteça antes do Verão", assinala Sarmento.

O cenário traçado pelo social-democrata faz-se no quadro da manutenção do actual calendário eleitoral. Sarmento tem defendido uma antecipação das legislativas para Maio ou Junho, de forma a separar as duas eleições por um mínimo de seis meses.

Uma "pobre" mensagem presidencial
Os comentadores começaram por criticar o conteúdo da mensagem de Ano Novo do Presidente da República.

Morais Sarmento chega a dizer que a parte económica do discurso é tão pobre "que mais valia que o Presidente não a tivesse dito". "Se a minha vida em 2015 – a minha vida e a do meu país – é resumida àquela fotografiazinha atávica, curta, quase provinciana na sua pobreza … É uma coisa muito paroquial".

A receita económica de Cavaco para 2015 não escapa: "Para o ano temos de fazer um-e-dois-e-três-e-quatro e parece que aquilo fica reduzido".

Vera Jardim diz que a tónica fundamental do discurso presidencial de Ano Novo andou entre a irrelevância e a pobreza. "Pobreza de perspectivas para o país, porque se fica no curto prazo: 'têm que se portar bem até às eleições, dizer a verdade aos portugueses'. Isso são coisas em que estamos todos de acordo."

Mas, diz o antigo deputado socialista, "há uma coisa positiva": o aviso face à profusão do populismo. "Já estamos num ano em que esse populismo pode andar à solta, em vários quadrantes e tendências."