28 mar, 2015
O comandante Salvador Sottomayor, piloto da TAP e presidente da Assembleia Geral da Associação de Pilotos de Linhas Aéreas, pede muita ponderação nas medidas que venham a ser tomadas depois da tragédia nos Alpes que vitimou 150 pessoas.
Salvador Sottomayor chama à atenção para alguma precipitação que possa existir, porque existe a pressão de fazer alguma coisa para dar o sentimento de segurança às pessoas.
“A porta blindada é muito importante mas tem problemas. Já deu este acidente e poderá dar outros equivalentes. E têm que se arranjar agora soluções já para a porta blindada. O que nos preocupa é que essas soluções, se forem precipitadas e não forem estudadas, provoquem outro tipo de problemas. Agora percebo que os políticos estejam sobre uma pressão brutal, e as empresas, umas por razões comerciais, outras por razões políticas, outras por segurança, também”, disse o comandante no programa “Em Nome da Lei.
Família tem indicações para dar sinal de alarme
O presidente da Assembleia Geral da Associação de pilotos de Linhas Aéreas reconhece que na TAP não existem exames psicológicos regulares, sistemáticos e obrigatórios. Mas acha que os exames médicos, esses obrigatórios, devem servir para que sejam detectados alguns problemas.
“Não temos um psicólogo, não somos obrigados a ir ao psicólogo de tanto em tanto tempo. No exame médico, estamos a ser avaliados nesses factores também. Nos nossos voos, com pessoas mais experientes,também vamos sendo avaliados pelo nosso comportamento”, acrescenta.
Ainda sobre os problemas psicológicos, diz que é fundamental que quem rodeia os pilotos contribua para a detecção destas situações. E dá o seu próprio exemplo pessoal, dizendo que a família tem indicações para alertar amigos se virem que ele não está em condições de voar.
Já sobre as medidas anunciadas pelo INAC e pelo Governo diz que é qualquer coisa, mas tem algumas dúvidas sobre o facto do comandante perder a capacidade de decidir onde é que precisa mais da tripulação.
Possibilidade de outros contactarem a torre de controlo
Já o comandante Paulo Soares, antigo piloto da TAP e ex-vice-presidente do INAC, deixa mais uma sugestão para uma medida que pode ser tomada, que não consta daquilo que foi agora decidido. Admite que não há forma de comunicar com a torre de controlo sem ser do cockpit, mas devia haver.
“Numa situação de emergência deveria ser possível fazer um alerta, dar um sinal ou advertir o controle-radar de que algo se está a passar. Actualmente, só mesmo na cabine de pilotagem é possível fazer qualquer tipo de comunicação com o exterior”, resume adiantando que as novas regras são importantes, embora não sejam uma grande novidade para as companhias portuguesas.
A importância do sector da aviação civil foi enfatizada pelo juiz desembargador Eurico Reis que defende que a “vertente económica nunca deve influenciar a segurança”. E dá como exemplo o facto de a Europa ter passado os testes psicológicos para facultativos.
“Não foi por acaso que nos regulamentos europeus, os exames psicológicos passaram a ser facultativos. Nós estamos num Mundo em que o que é preciso é esmagar os preços e portanto tudo o que possa ser custos é aligeirar. Nós esquecemos que esta é uma actividade perigosa, e é com isso que nos devíamos preocupar. A preocupação deveria ser esmagar os riscos, em vez de esmagar os preços, porque depois esmagamos pessoas”, critica.
Por fim, o advogado Luís Fabrica pensa que o processo jurídico que envolve uma situação destas, embora grande, não deverá ser polémico. E afirma que as companhias “pagam o que têm a pagar”.