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Maioria dos abusos sexuais de menores acontece no seio da família

14 fev, 2015

Em Portugal, não há prevenção dos abusos nem programas para tratar jovens agressores sexuais. Metade dos abusadores adultos começaram na adolescência.

Maioria dos abusos sexuais de menores acontece no seio da família
A percentagem ronda os 70 a 75%. Rute Agulhas, psicóloga forense do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, lembra ainda que em Portugal não há prevenção dos abusos nem programas para tratar jovens agressores sexuais.
A larga maioria dos abusos sexuais de menores acontece no seio da família ou é cometida por pessoas “muito próximas” da vítima, alerta Rute Agulhas, psicóloga forense do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, lembrando em Portugal não se faz prevenção dos abusos sexuais de menores, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Espanha.

“Mais de 70%, 75% são abusos intrafamiliares, não necessariamente com uma filiação biológica, com um laço biológico, mas pessoas muito próximas, muitas vezes por afinidade e que têm conhecimento próximo da vítima. Os casos cometidos por estranhos são muito menos representativos”, disse no programa "Em Nome da Lei da Renascença, emitido ao sábado, pelas 12h00.

Rute Agulhas defende que a partir dos três ou quatro anos, os pais devem começar a advertir os filhos contra os riscos de virem a ser abusados, mas que não é preciso falar sobre “masturbação ou penetração”.

A psicóloga explica que “é importante desmistificar porque muitas vezes não só os profissionais, mas também os pais têm alguma dificuldade em pensar ‘como é que eu vou falar com o meu filho de três ou quatro anos sobre isto?’”.

“Temos que falar sobre outro tipo de questões. Temos que ensinar às crianças o que é o corpo, quais são os direitos sobre o corpo, de quem é aquele corpo, quem pode mexer, quem não pode mexer, como é que pode mexer”, exemplifica.

Falta prevenção
Em Portugal, não há prevenção dos abusos sexuais de menores ou um programa específico para tratar jovens agressores sexuais, o que se torna imperativo quando as estatísticas mostram que metade dos abusadores adultos começaram na adolescência. 

Esta especialista diz que a terapia deve ser começada o mais cedo possível porque trabalhar “com um indivíduo de 40 ou 50 anos que tem estas práticas muito mais cristalizadas” é muito mais difícil do que com um jovem. “A resistência à mudança é muito maior”, sublinha.

Os centros educativos, onde são internados os agressores sexuais menores de 16 anos, além de estarem sobrelotados, não têm terapia adequada para estes jovens.

O livro “Casos Práticos em Psicologia Forense” resultou da experiência de Rute Agulhas e Alexandra Anciães, também psicóloga forense.