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Vêm aí penas mais pesadas para violência doméstica

03 mai, 2014 • Marina Pimentel

A procuradora Dulce Rocha revela que cada vez tem mais denúncias de mulheres que acusam os juízes de família de ignorarem os problemas de violência.

Vêm aí penas mais pesadas para violência doméstica
O "Em Nome da Lei" debate os casos de violência doméstica em que os Tribunais criminais decretam o afastamento do agressor mas depois os Tribunais de família colocam a vítima em risco, por causa das visitas aos filhos. “A lei ficciona uma situação cor-de-rosa de divórcios que ocorrem apenas porque as pessoas deixaram de se amar. Esta posição da lei tem consequências gravíssimas”, diz Dulce Rocha.
A entrada em vigor da Convenção de Istambul, a 1 de Agosto, vai implicar uma revisão de toda a legislação sobre violência doméstica e ainda um agravamento das penas, diz a juíza desembargadora Teresa Féria, presidente da Associação Portuguesa de Mulheres Juristas.

"Implica rever todo o regime da violência doméstica. Alterar a tipificação, ou seja, alterar a forma como está previsto o crime. Implica a agravação de penas contra determinado tipos de circunstâncias. Implica que seja tido em muito mais consideração, no âmbito dos tribunais de família, toda a situação que é vivida pelas mulheres e pelas crianças que são vítimas de violência doméstica. Ou de outro tipo de agressão, designadamente, as crianças que são vítimas de abusos sexuais", afirmou no programa "Em Nome da Lei", da Renascença.

O enquadramento legal da violência doméstica foi o tema do “Em Nome da Lei” que este sábado debateu os casos em que os tribunais criminais decretam o afastamento do agressor mas depois os tribunais de família colocam a vítima em risco, por causa das visitas aos filhos. É o caso de Ana, uma vítima que aceitou contar a sua história à Renascença.

A procuradora Dulce Rocha revela que cada vez tem mais denúncias de mulheres que acusam os juízes de família de ignorarem os problemas de violência doméstica: “Eu tenho tido muitas queixas de mulheres que me relatam factos muito idênticos àqueles que ouvimos da Ana. De chegarem ao tribunal de família e não lhes ser possível expor sequer o que passaram na sua vida conjugal, os maus-tratos de que foram vítimas. Porque a nossa lei ficciona uma situação cor-de-rosa de divórcios que ocorrem apenas porque as pessoas deixaram de se amar, ou porque arranjaram outro amor. Esta posição da lei tem consequências gravíssimas”, considera.

A presidente executiva do Instituto de Apoio à Criança diz que é urgente que se criem espaços neutros onde as mães vítimas de violência conjugal possam deixar os filhos para se encontrarem com os pais, sem elas correram o risco de se cruzar com os agressores: “Têm de se arranjar aqueles espaços neutros – muito falados já – onde se deixa a criança e passado um bocadinho chega o outro progenitor. Não podemos é facilitar o encontro do agressor com a sua vítima. É que essas situações são sempre muito stressantes e muito perigosas.”

Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna, o único crime que não baixou em Portugal em 2013 foi o de violência doméstica, tendo-se registado 40 vítimas mortais. Neste momento há 442 detidos nas cadeias por violência doméstica, o maior número de sempre.

Excertos do debate no programa “Em Nome da Lei” da Renascença, para ouvir aos sábados depois do noticiário das 12h00 e, a qualquer hora, em www.rr.sapo.pt.