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Doentes dizem que acesso a medicamentos é "lotaria geográfica"

14 fev, 2013 • Dora Pires

Associações de doentes pedem uma reunião com o ministro da Saúde e garantem que se Paulo Macedo não conhece casos concretos é porque não quer.

Várias associações de doentes uniram-se na crítica e sustentam que ter acesso a alguns medicamentos inovadores é uma "lotaria geográfica". Representantes dos doentes com esclerose múltipla, hepatite e artrite reumatóide contestam a diferença de critérios que leva alguns hospitais a disponibilizarem tratamentos que outros proíbem.

É uma questão de endereço, dizem. No Norte, as queixas vão sobretudo para os hospitais de S. João e de Braga, mas os representantes dos doentes dizem que o problema é bem maior - referem que são raros os hospitais que disponibilizam o medicamento mais recente para a hepatite.

"Temos neste momento oito hospitais no país a darem medicação e os outros não têm. Segundo os dados do Infarmed, foram tratados 137 doentes no país entre Novembro de 2011 e Dezembro de 2012. Desses 137, 60 foram tratados no hospital de Santa Maria. Quer isto dizer, que temos todo o país a tratar 77 doentes em 13 meses", diz Emília Rodrigues, da SOS Hepatites. "É caso para pensar."

Se não há novos medicamentos usam-se os do costume, mais baratos. Paulo Pereira, da Associação Todos com Esclerose Múltipla, diz que não é claro o impacto no doente, mas considera que algo não bate certo. "Se de facto os medicamentos são iguais, porque é que existem cinco diferentes? Então se os medicamentos são iguais, o Infarmed não podia obrigar a baixar o preço?", questiona Paulo Pereira.

"Não percebo", prossegue. "Se os medicamentos são iguais, porque é que há hospitais que dão todos os cinco medicamentos [e outros não]? Então há aí negociatas."

São queixas antigas. O ministro da Saúde tem dito que não conhece casos concretos, mas Paulo Macedo "só não sabe porque não quer", critica Ariete Saraiva, da Associação de Doentes com Artrite Reumatóide. "À saída da comissão de saúde na Assembleia da República, barrei-lhe o caminho e entreguei-lhe um envelope com 10 reclamações de doentes."