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"Não há nada para interpretar nos sonhos"

29 mar, 2012 • Dora Pires

O que têm em comum os seres humanos e alguns mamíferos aquáticos? O neurocientista Alexandre Castro Caldas responde.

"Não há nada para interpretar nos sonhos"

O lado mágico do sono e do sonho sobrevive aos ténues avanços da ciência nesta matéria e que tendem a mostrar que o grande mistério dos sonhos até pode ser não terem mistério nenhum. A Renascença foi ouvir um neurocientista muito pragmático nestas coisas do sono.

O corpo não dorme e a actividade do cérebro durante o sono está provada desde que existem electroencefalogramas, mas os mais de 50 anos que passaram, entretanto, nem chegam ainda para perceber, exactamente, porque adormecemos.

“É muito difícil de perceber, exactamente, o que faz entrar o cérebro naquele estado. Fadiga, o ritmo circadiano, a falta de luz, conjugam-se uma série de circunstâncias que são os propulsores para desencadear o ritmo do sono”, refere Alexandre Castro Caldas.

O neurocientista defende que o mecanismo do cérebro durante o sono pode não andar muito longe do de alguns animais, nomeadamente certos mamíferos aquáticos.

O sono é uma espécie de circuito alternado que também serve para arrumar as experiências dos dias.

Quando o “arquivador” não tem certeza sobre as “gavetas” a usar ou despertamos antes de concluída essa tarefa, pode ser um pesadelo.

Alexandre Castro Caldas afasta o inconsciente desta história: “Não há nada para interpretar nos sonhos, nada. Não nos dizem nada de coisa nenhuma”.

O que não resta dúvida é que o sono é tão indispensável à vida como o alimento. Calcula-se que é difícil sobreviver mais de dez dias sem dormir, mas esta é uma dúvida que, se tudo correr bem, nunca se há-de esclarecer.

Um terço da nossa vida é passado a dormir e não, não é desperdício.

O “Sono e o Sonho” são os temas de um congresso que arrancou esta quinta-feira, no Porto.