Emissão Renascença | Ouvir Online

Especialista: Novo tratamento para cancro tem bons resultados, mas é caro

03 jul, 2015

Moléculas biológicas que fazem a diferença. Tratamento, na área da imunoterapia, vai estar disponível a partir deste mês e "é necessário que o Sistema Nacional de Saúde tenha dinheiro para comparticipar".

Especialista: Novo tratamento para cancro tem bons resultados, mas é caro
Um novo tratamento para o cancro, baseado na activação do sistema imunológico, através de moléculas biológicas, tem "resultados muito interessantes". Mas o vice-director do Instituto de Medicina Molecular (IMM) diz que é caro e a sua aplicação vai depender da decisão dos responsáveis hospitalares.

"Estes tratamentos são uma grande revolução e estão indicados para cancros mais avançados, pois para cancros em fases iniciais temos outras alternativas", explicou em entrevista à agência Lusa.

Bruno Silva Santos avançou que o tratamento, na área da imunoterapia - chamado pembrolizumab - vai estar disponível em Portugal a partir deste mês e "é necessário que o Sistema Nacional de Saúde tenha dinheiro para comparticipar", uma decisão que "tem de ser tomada ao mais alto nível nos vários hospitais", pois é "realmente caro", custando cerca de 100 mil euros.

Já o ipilimumab, o outro tratamento que segue o mesmo princípio, já está aprovado nos EUA e na Europa e é usado em Portugal para o melanoma metastático e "é impressionante o efeito que essa molécula teve", acrescentou.

O investigador falava a propósito de um encontro marcado para sábado, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, para informar profissionais ligados à investigação pré-clínica e à prática clínica acerca do avanço desta alternativa.

Poder das moléculas biológicas
"Trata-se de anticorpos, moléculas biológicas produzidas por células vivas", diferentes dos tratamentos feitos com drogas químicas, como a quimioterapia, e que começaram por ser usadas no tratamento do melanoma metastático, referiu.

No último ano, os resultados foram alargados a outros tipos de cancro, incluindo o do pulmão, e actualmente decorrem ensaios clínicos para perceber em que cancros sólidos estes anticorpos têm resultados mais interessantes.

"O que eles fazem é remover o travão que impede que o sistema imunitário, neste caso os linfócitos T, esteja activamente a combater o cancro", explicou, e o objectivo é "reverter o processo em que o sistema imunitário está a perder a batalha para o cancro".

Até agora, tentava-se focar a luta nas células cancerígenas, eliminando-as com quimioterapia, radioterapia ou com cirurgia, mas em muitos casos os cancros são resistentes a estas terapias.

Fazer as contas
Para poder receber este tratamento, o doente não pode estar demasiado debilitado ou ter doenças auto-imunes.

Acerca do valor do novo tratamento, Bruno Silva Santos defendeu ser necessário fazer as contas ao custo dos outros tratamentos, nomeadamente quando se prolongam por vários anos.

"Os locais credenciados para tratamentos médicos de saúde têm todos e por igual acesso a este tratamento, depois é a questão de quem é que consegue pagar", admitiu.

Perante a taxa de sucesso entre 50% e 60% apresentada pela imunoterapia, os investigadores procuram "biomarcadores, parâmetros biológicos, que permitam prever a resposta dos doentes para optimizar os recursos".