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Mariana comia, mas só pesava 33 quilos. Idosos desconhecem riscos da desnutrição

29 jun, 2015 • Liliana Carona

Mais de 200 farmácias portuguesas analisaram risco de desnutrição dos portugueses. Resultados surpreenderam farmacêuticos.

Mais de 200 farmácias analisaram ao longo de um ano, de forma gratuita, o risco de desnutrição dos portugueses. Nas duas mil pessoas identificadas, na sua maioria idosos, existe um grande desconhecimento sobre o que é a desnutrição, os seus riscos e consequências.

Sensibilizar e identificar precocemente a população portuguesa para o risco de desnutrição (doença causada por uma dieta desadequada, que não fornece nutrientes essenciais) e dotar os profissionais de saúde de conhecimentos sobre este tema foram os principais objectivos do projecto "Agir para Nutrir", que arrancou no Verão de 2014 e envolveu 249 farmácias.

A iniciativa da empresa Labesfal Genéricos, de Tondela, estendeu-se até 30 de Abril. De todas as farmácias envolvidas, mais de 20% mantiveram o serviço de consultas de nutrição disponível, assim como o aconselhamento farmacêutico nessa área.

É o caso da farmácia Miranda, na Mealhada, que aderiu ao "Agir para Nutrir" e vai manter a dinâmica do projecto. Todas as terças de manhã, esta farmácia tem consultas de nutrição, que vão ser mantidas graças ao "Agir para Nutrir".

Enquanto avia uma receita, o farmacêutico Diogo Luxo coloca algumas perguntas a Gracinda Laranjeira, de 70 anos: "Não sei se a senhora faz as refeições todas… E a alimentação, é variada com carne, arroz?".

Gracinda faz todas as refeições, mas "não come fritos, nem carne de porco". "Fazem mal e eu tenho colesterol alto", explica. 

Gracinda não apresenta sinais aparentes de desnutrição, ao contrário de Mariana Silva, de 81 anos. Comia muito, mas não ganhava peso. "Cheguei a pesar 33 quilos e consultei a nutricionista, que me disse que não podia comer tudo", conta.

A nutricionista da farmácia Miranda pô-la no caminho certo. Passou a fazer uma dieta específica. "Por exemplo, às 11h00, passei a beber uma chávena de chá com três bolachas sem glúten, porque sou intolerante. Agora, vou de quatro em quatro meses à nutricionista e já aumentei três quilos, que tenho mantido."

"Não sabíamos que havia tantas pessoas com alimentação deficiente"
Tal como outros farmacêuticos, Diogo Luxo recebeu formação no âmbito do "Agir para Nutrir". "Aprendemos a fazer as perguntas certas: se fazem as refeições todas, o que costumam comer… Depois, começam a ser acompanhados pelo nosso nutricionista", explica.

"Aconselhamos sobretudo os idosos viúvos, isolados, que não fazem as refeições todas – por falta de dinheiro ou porque não lhes apetece cozinhar só para eles", afirma.

O farmacêutico, de 28 anos, nunca pensou que houvesse tantos idosos em risco de desnutrição. "Sabíamos que esta realidade existia, mas não fazíamos as perguntas certas e não sabíamos que havia tantas pessoas com alimentação deficiente", acrescenta. "De certeza que há mais gente a quem não conseguimos chegar por não sabermos."

Nem todos os indivíduos sinalizados em risco de desnutrição são idosos. Manuel Marques tem um filho paraplégico de 40 anos que não consegue mastigar. A situação foi resolvida com a ajuda do farmacêutico. "Tinha que compensar as refeições porque ele não mastiga e perguntei por uma alternativa. Optou-se por uns iogurtes que eles têm aqui na farmácia. Não precisam de frio e podemos transportá-los."

O próximo passo do projecto "Agir para Nutrir" é envolver os cuidados de saúde primários para que possam identificar os utentes em risco de desnutrição.