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Encíclica do Papa sobre ambiente é "forma de pressão" para líderes mundiais

18 jun, 2015 • Eunice Lourenço

"Mensagem muito clara" do Papa pressiona "países mais cépticos" com grandes comunidades católicas, diz ambientalista da Quercus.

Encíclica do Papa sobre ambiente é "forma de pressão" para líderes mundiais
A encíclica "Laudato Si", a primeira inteiramente dedicada a questões ecológicas, vai ser, "sem dúvida, uma forma de pressão" para a Conferência do Clima, que vai decorrer em Paris no fim do ano, diz Francisco Ferreira, da Quercus.

"O facto de o Papa surgir neste momento com uma mensagem muito clara vai ser sem dúvida uma forma de pressão imediata sobre um conjunto de países mais cépticos e que têm grandes comunidades católicas", afirmou Francisco Ferreira, num debate na Renascença com o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, Pedro Vaz Patto.

O ambientalista considera que a encíclica divulgada esta quinta-feira "é um fantástico diagnóstico da situação, com uma base científica muito bem conseguida" e " um documento rigoroso e que olha para o futuro", pelo que deve constituir "uma oportunidade de mobilização para os católicos".

"O Papa toma claramente partido sobre o caminho, quando diz que devemos tendencialmente eliminar os combustíveis fosseis e fazer uma aposta na eficiência energética e nas energias renováveis. É muito direccionado o caminho que leva a humanidade a conseguir sobreviver no planeta que tem de usar estes recursos renováveis", analisa Francisco Ferreira.

"Dedo na ferida"
O ambientalista considera que o Papa "põe o dedo na ferida" quando toca na questão da equidade e critica de forma veemente a distribuição de recursos.

"Sem dúvida que só conseguimos um desenvolvimento sustentável ultrapassando estas questões da equidade, mas o movimento ambientalista considera que não temos um planeta infinito. Temos uma qualidade limitada de recursos renováveis e, portanto, não conseguiremos ter uma população que infinitamente possa explodir", acrescenta Francisco Ferreira.

Pedro Vaz Patto aponta outra leitura: "Para proteger o ambiente não é preciso diminuir a população". O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz entende, como o Papa, que "a questão enfrenta-se se houver outra distribuição de recursos" e salienta que um terço dos bens alimentares são desaproveitados.

No debate, moderado pelo jornalista José Pedro Frazão, Vaz Patto colocou a ênfase sobretudo na questão da equidade e na interdependência das questões ambientais com as questões sociais. Para o presidente da CNJP, são sempre os mais pobres a sofrer as maiores consequências dos problemas ambientais. Um exemplo: se não há água potável, os pobres não podem comprar água engarrafada.

Pedro Vaz Patto considera que "é um dever de justiça" os países mais ricos pagarem a sua "dívida ecológica" (expressão do Papa) aos países mais pobres.

"O estado a que chegou a Terra neste momento, os problemas do aquecimento global e outros são fruto da actividade dos países ricos e dela beneficiaram os países ricos. Portanto, é um dever de justiça, e não uma questão de filantropia, que, nesta necessidade de reconverter a economia e as fontes de energia, as dificuldades que os países pobres possam ter sejam assumidos de forma solidária pela comunidade internacional e pelos países ricos."