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"Jantei e vim para aqui". Maria dormiu na rua para ter anestesia na colonoscopia

11 jun, 2015 • João Cunha

No Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa, a fila para conseguir uma das 150 senhas diárias que dão direito a um exame sem dor começa no dia anterior.

"Jantei e vim para aqui". Maria dormiu na rua para ter anestesia na colonoscopia
No Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa, a fila para conseguir uma das 150 senhas diárias que dão direito a uma colonoscopia com anestesia começa no dia anterior. O exame passou a ser comparticipado pelo Serviço Nacional de Saúde, mas não são muitos os locais onde o fazer e a marcação tem de ser presencial. "É o país que temos", desabafa um utente à reportagem da Renascença.
A fila perde-se quase de vista esta quinta-feira. Tal como na terça, centenas de utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) tentam marcar uma colonoscopia com anestesia no Hospital da Ordem Terceira, no Chiado, em Lisboa.

O exame passou a ser comparticipado pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas não são muitos os locais onde o fazer e a marcação tem de ser presencial.

Algumas pessoas chegaram na quarta-feira à noite para garantir uma das 150 senhas diárias. Maria (assim se identifica), que aparenta ter mais de 70 anos, foi uma delas.

"Jantei e vim para aqui. O que havemos de fazer? É o país que temos. O país das maravilhas!", diz à Renascença.

Para não perder uma das senhas disponíveis, como lhe aconteceu na terça-feira, António Geada decidiu arriscar e também passou a noite à porta do Hospital da Ordem Terceira.

Uns lugares mais atrás na fila, que se estende para lá do Teatro Nacional de São Carlos, está Maria da Conceição. Chegou pouco depois das 23h00 de quarta-feira. Trouxe de casa o banquinho, para aguentar melhor a espera.

"Já cá estive na terça-feira, cheguei aqui eram 7h00 e pouco e já não apanhei nada", relata.

Muito mais atrás na fila – provavelmente sem direito a senha para esta quinta-feira – está Fátima Silva. "Venho da margem Sul. Apanhei o primeiro autocarro às 5h20. Amanhã não tenho transporte mais cedo, mas vou gastar dinheiro num táxi e estar aqui à meia-noite. Amanhã consigo consulta!"

Desde Março que tem uma credencial para fazer o exame. Até Setembro, tem de o marcar, caso contrário a credencial perde a validade. E volta tudo ao princípio.

A Renascença tentou obter um comentário da administração do Hospital da Ordem Terceira, sem sucesso.