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Graças ao "switch" todos brincam

26 mai, 2015 • Liliana Carona

São poucos ou nenhuns os brinquedos disponíveis nas lojas para crianças portadoras de deficiência. A pensar no seu direito a brincar, a Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra criou a ludoteca Dragão Brincalhão. A Renascença visitou o local onde todos os brinquedos são virados do avesso.

Graças ao "switch" todos brincam
O armário dos brinquedos da Ludoteca da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC) tem mais de 100 brinquedos adaptados, entre bonecas, carros telecomandados, jogos, comboios. O segredo está no "switch". 

Sistema permite accionar o brinquedo – um pedal adaptado às necessidades de crianças com dificuldades motoras. Podem accioná-lo com a mão, com o cotovelo, colocá-lo entre o ombro e o pescoço e brincar como qualquer criança.

No exterior, chega a custar mais de 100 euros, mas a responsável da ludoteca da APCC, Fátima Vilaça, consegue a proeza por muito menos.

"A versão comercializada existe. Há empresas que o fazem e está na ordem de 100, 120 euros cada um, o que é extremamente caro para a maior parte das famílias. Com um simples pedal de viola, fica-nos à volta de 15 euros, uma diferença substancial", explica à Renascença.

O Homem Aranha é um dos brinquedos mais requisitados. Tem duas hipóteses de ligação ao "switch" em cada pé. Mas há mais brinquedos adaptados na oficina da ludoteca.

Ali, as funcionárias concebem também muitos brinquedos para crianças de visão reduzida, pois não há muita oferta de mercado. Além disso, ampliam jogos, "porque as crianças em cadeira de rodas, quatro à volta de uma mesa, não vêem o jogo e depois têm dificuldades a nível motor e não podem pegar numa peça pequena. Assim, ampliamos os dados e ficam gigantes", descreve a coordenadora.

São sempre jogos cooperativos, em que todos ganham e não há frustração. Além disso, qualquer um pode seguir para a terapia e regressar – a diversão é sempre assegurada.

Brincar é fundamental
Brincar é uma ajuda preciosa na reabilitação de crianças com paralisia cerebral ou outras condições crónicas, garante a educadora Fátima Vilaça. "Uma criança que não brinca é uma criança que está doente, que não está bem."

As crianças com paralisia cerebral normalmente não têm problemas intelectuais, têm é falta de estímulo. Se não os tiverem, são crianças a quem proibimos o direito de se expressar; ficam presas num corpo e não têm hipótese de pôr cá fora tudo o que têm lá dentro”, explica.

David tem seis anos e paralisia cerebral. Precisa de uma cadeira de rodas para se mover, mas isso não lhe tira a alegria de brincar. Miguel Monteiro e Sofia são os seus pais e garantem que, se não fosse a ludoteca “Dragão Brincalhão”, tudo seria muito diferente.

Encontrar nas lojas os brinquedos de que o David precisa não tem sido tarefa fácil e lamentam não conseguir encontrar um triciclo para o filho. "Esta ludoteca ajuda imenso, não temos capacidades financeiras para comprar todos estes brinquedos e lá fora não encontramos estes brinquedos adaptados. O David não tem marcha autónoma e usa o triciclo na escola. Agora, precisamos de um em casa para altura dele", afirma a mãe. "Os triciclos que estão à venda são para crianças de quatro anos, não há para crianças de seis anos", lamenta o pai.

O pequeno David, sorriso de orelha a orelha, está feliz por poder brincar como qualquer criança. Se dúvidas existissem: “David tu és feliz?”, pergunta o pai. “Sou muito, sou o monstro das cócegas”, responde, rindo à gargalhada.

A história de Ângela
Caryne é a mãe de Ângela de 11 anos. Quando descobriu que a filha tinha paralisia cerebral, pensou que não pudesse brincar. Hoje, nota uma evolução muito positiva graças às brincadeiras.

"Isto é muito bom. Eu não sabia que as pessoas como a Ângela podiam brincar como as outras crianças. Ela é uma criança e todas as crianças gostam de brincar e agora pode através do switch", reconhece.

Ângela ri com vontade ao mesmo tempo que, por meio de gestos descontrolados, consegue carregar no "switch" e despertar a coelhinha, o seu boneco preferido.

A Ludoteca Dragão Brincalhão foi criada em 1995. Desde essa altura que se dedica a desmontar brinquedos, a desaparafusar carros e carrinhos para que qualquer criança possa brincar, independentemente de qualquer limitação física ou mental. Através do site na Internet, qualquer criança pode requisitar um dos brinquedos.

A ludoteca tem quatro pessoas a trabalhar e a fazer valer o direito a brincar do artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança.