Tempo
|

"No futuro, não fumar será o normal"

15 mai, 2015 • Cristina Nascimento

Parlamento discute esta sexta a proibição de fumo nos locais públicos e o uso de imagens chocantes nos maços de tabaco. O director-geral da Saúde diz que os portugueses estão cada vez mais conscientes dos riscos de fumar, mas há sinais, preocupantes, nos jovens.

"No futuro, não fumar será o normal"

O director-geral da Saúde, Francisco George, acredita que no futuro o normal será não fumar. "O não fumar é que representará, no futuro próximo, a normalidade", diz à Renascença. 

O Parlamento discute esta sexta-feira alterações à legislação mais restritivas do consumo de tabaco. Se a proposta do Governo for aprovada, o fumo vai ficar praticamente banido dos locais públicos e os maços de tabaco vão passar a ter imagens chocantes para alertar para os riscos da saúde.

Francisco George lembra que há poucos anos os cigarros eram muito mais tolerados, mas recusa estarmos perante um caminho de proibição. "É antes uma questão de pedagogia."

O Há provas de que as imagens chocantes nos maços de tabaco contribuem para a dissuasão do consumo de tabaco?
Sim, de uma forma comprovada, as imagens favorecem o fumador na decisão, que é dificil reconheça-se, de deixar de fumar. É preciso ter em conta que a proposta de lei que agora está para ser apreciada, votada e adoptada pela Assembleia da República tem duas componentes, uma delas refere-se à transposição para o direito português da directiva sobre as questões da redução do tabagismo. É neste quadro que foi decidido adoptar, em todos os estados-membros da União Europeia, imagens nos maços de tabaco que ocupem no mínimo 65% da superfície da embalagem dos maços de cigarros. Há um conjunto de imagens que foram adoptadas pelos diferentes órgãos da União Europeia, incluindo a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu, que são agora impostos aos países.

Acha que estamos a caminhar no sentido de um dia vir a proibir o consumo de tabaco?
Não é uma questão de proibição, mas antes de pedagogia. Todos os cidadãos devem reconhecer que o tabaco representa um factor de risco para doenças muito graves, para o cancro mas não só também para as doenças isquémicas do coração (angina de peito, enfarte do miocárdio, mas também para o AVC). O fumo do tabaco, sendo um risco, naturalmente não pode ser considerado como normal. A tendência, no que respeita aos comportamentos dos cidadãos, no futuro próximo será não fumar. É para aí que temos todos de caminhar. Temos que intensificar a luta contra o tabagismo.

Mas então podemos por exemplo equacionar por fotografias chocantes em alimentos com altos teores de açúcar ou gordura…
A tendência como lhe disse é para ser considerado como hábito saudável, como comportamento livre de riscos, o não fumar. O não fumar é que representará no futuro próximo a normalidade e isto é um percurso que tem sido adoptado. Não há muitos anos os apresentadores dos noticiários principais das televisões tinham na própria secretária um maço de tabaco a chamar a atenção para a marca do maço de cigarros. Isso era inaceitável, hoje ninguém tolerava uma situação dessas. Há aqui uma decisão no contexto do movimento a favor da saúde, mas global, em todo o mundo, de luta contra o tabagismo. É absolutamente essencial que todos compreendam que esse é o futuro. Nós vamos caminhar para uma situação onde o normal é não fumar.

A legislação que ainda está em vigor e que apertou o cerco ao fumo em locais públicos foi bem entendida pelos portugueses?
Os portugueses compreenderam muito bem a lei que entrou em vigor em 2008. Nos principais restaurantes, nos cafés, cafetarias, em todos os locais públicos fechados os cidadãos, aqueles que utilizam esses espaços  não fumam e isso é importante. Aliás, observam melhor a lei do que muitos dos próprios gerentes, uma vez que, mesmo em situações onde o sinal de poder fumar existe, são muitos aqueles que vão fumar à rua. Isto é um sinal que em termos de compreensão, de conhecimentos, as opções hoje são mais a favor da saúde. Nenhum fumador gosta de fumar e todos querem deixar de fumar e todos compreendem hoje os riscos que o fumo do tabaco tem para a saúde, riscos que podem ser evitados.

Mas os portugueses estão a fumar menos?
Há sinais de prevalência de menos  fumadores, mas por outro lado, também temos indicadores, no sentido preocupante, sobretudo em jovens e em jovens mulheres. É uma situação que tem de ser enfrentada neste plano educativo, da pedagogia dos ensinos e transmitir informações no sentido das informações gerarem conhecimentos e os conhecimentos determinarem escolhas a favor da saúde. Não faz sentido que uma jovem de 16, 17, 18 anos fume e que ponha em causa o seu futuro, não só naquilo que respeita a ela própria, como também, na idade fértil, ter em conta os riscos que representa o fumo do tabaco para a criança.