Mais 600 doentes por médico de família. É a nova proposta do Governo
09 abr, 2015 • André Rodrigues
Inaceitável, reage a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.
O Governo renovou a proposta aos sindicatos do sector da saúde para combater a escassez de clínicos nas zonas mais carenciadas: atribuir mais 600 utentes a cada médico de família.
O Ministério da Saúde retoma assim uma ideia com cerca de um ano e que tem como objectivo alargar, de 1.900 para até 2.500, o número de utentes por médico nos centros de saúde.
A notícia é avançada esta quinta-feira pelo "Jornal de Notícias", segundo o qual a tutela oferece, em troca, um salário superior.
À Renascença, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar afirma que a proposta é inaceitável. "É impossível trabalhar com 2.500 utentes", diz o presidente da associação, Rui Nogueira.
"Algo entre 1.200 e 1.900 utentes é possível, mas se colocarmos 1.900 utentes por médico, por exemplo, no interior do país onde a população é mais idosa, o sistema rompe por completo", explica, considerando que a proposta do ministério é, por isso, "areia para os olhos das pessoas" e "uma ilusão".
Rui Nogueira defende, por outro lado, mais celeridade na abertura de concursos para colocar médicos que estão a concluir o internato.
"Em Lisboa, em cinco a oito dos 20 agrupamentos de centros de saúde, um terço da população não tem médico de família. No Algarve, a situação é ainda mais atípica: um dos agrupamentos de centros de saúde tem metade da população sem médico, outro tem cerca de 20% e um terceiro 12%, em linha com a média nacional", afirma, confirmando as carências sentidas naquelas regiões.
A Renascença pediu esclarecimentos ao Ministério da Saúde, sem sucesso.