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Deco e ASAE "picadas"

27 jan, 2015 • Liliana Monteiro

Análises feitas pela Deco a carne picada motivaram reacção da ASAE e trocas de acusações entre as duas partes.

A Deco - Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor acusa a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) de recorrer a “artifícios” perante o resultado do estudo que aponta falhas de higiene e de conservação em 26 talhos onde foi inspeccionada carne picada. 

O trabalho da Deco conclui que nenhum dos estabelecimentos analisados cumpria os critérios de higiene e segurança e a ASAE, num comunicado enviado às redacções, esta terça-feira, questiona a metodologia usada e considera a amostra insuficiente.

A ASAE diz ainda que é necessário esclarecer se o produto analisado foi carne picada, na qual legalmente não é possível usar sulfitos, ou se a Deco analisou preparados de carne, como sejam hambúrguer e almôndegas, onde a sua utilização já é permitida.

O responsável pelo estudo da Deco, Nuno Dias, disse à Renascença que "este tipo de reacção por parte da ASAE não contribui para o correcto esclarecimento dos consumidores nem para a alteração da situação encontrada".

"Os sulfitos são permitidos em alguns géneros alimentícios, mas estão interditos na carne picada. E, mesmo nos géneros em que são autorizados, a sua declaração é obrigatória. Isso é claro, resulta da legislação comunitária. De todas as amostras que comprámos, nenhuma tinha uma etiqueta a dizer que continha sulfitos", reforça.

Nuno Dias esclarece ainda que todas as análises foram feitas a carne picada e garante que todas as analises são certificadas: "Fazemos, obviamente, as coisas de uma forma científica. A ASAE sabe disso, trabalhamos com laboratórios acreditados. Quando vemos que os nacionais não nos dão garantias, trabalhamos com internacionais. Nem vale a pena estar a discutir artifícios que desviam a atenção da verdade. A verdade é que dos 26 estabelecimentos que nós analisámos nem um estava a cumprir a lei".

O representante da Deco diz ainda que a associação não quer substituir a entidade fiscalizadora e lamenta que a ASAE questione os resultados em vez de se preocupar com a situação. "A Deco não quer substituir a entidade fiscalizadora, os nossos estudos são apenas um contributo. Esse papel cabe à ASAE e era importante que a ASAE esclarecesse quantas vezes fez a pesquisa de sulfitos na carne que analisou nos últimos dois anos, em vez de dar números genéricos. Esta resposta não é dada", afirma. 

No seu comunicado, a ASAE informa de que, no último ano, só na região da Grande Lisboa, recolheu 42 amostras de carne, não tendo detectado sulfitos.

"Por lei, a carne picada não pode ser vendida a mais de dois graus centígrados. É normal que nem um único estabelecimento cumpra os requisitos? Encontrámos carne vendida a quase 17 graus. Não é normal comprar carne de vaca picada, que nos asseguraram ser só de vaca, e encontrar vestígios de outras carnes, incluindo de aves, que devem ser picadas numa picadora à parte. Enquanto consumidores esperamos outra atitude por parte da entidade fiscalizadora", contrapõe Nuno Dias.