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Caos nas urgências. Governo quer enfermeiros com mais funções e requisitar hospitais militares

16 jan, 2015 • Anabela Góis

Governo enviou propostas aos parceiros no sector. Uma das mais polémicas sugere que os enfermeiros possam, na triagem, pedir exames complementares de diagnóstico e ministrar analgésicos para controlar a dor.

Caos nas urgências. Governo quer enfermeiros com mais funções e requisitar hospitais militares

O Governo admite requisitar espaços nos hospitais militares e recorrer aos privados para resolver os problemas nas urgências, apurou a Renascença. As propostas já foram enviadas aos parceiros no sector.

A mais polémica passa por autorizar os enfermeiros na triagem a pedir exames complementares de diagnóstico e darem analgésicos para controlar a dor, mas há outras medidas em estudo.

Depois da morte de doentes à espera de atendimento nas urgências, o Governo garante que as medidas agora propostas não pretendem resolver o problema dos actuais tempos de espera, mas sim melhorar a eficiência do uso de recursos, o que já se faz noutros países.

A ideia é, em altura de crise, recorrer a meios fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para reforçar a capacidade dos hospitais públicos.

Com esse objectivo, foi pedido um levantamento dos meios, recursos humanos e espaços, não só do SNS, mas também dos hospitais militares e privados.

Fonte do gabinete do ministro da Saúde, Paulo Macedo, confirma à Renascença que este levantamento ainda não está concluído e não há ainda respostas do sector.

Já quanto à proposta que dá mais competências aos enfermeiros na triagem dos doentes e os autoriza a dar analgésicos para controlar a dor, as respostas das ordens dos Enfermeiros e dos Médicos já estão na secretária de Paulo Macedo. A primeira aplaude e diz que isso já se faz há muito tempo noutros países.

A Ordem dos Médicos, pelo contrário, considera que se trata de uma medida demagógica, inútil e prejudicial. Mais grave ainda, diz, porque os “analgésicos” podem mascarar situações potencialmente graves.

O Governo garante que até que receba todas as respostas não há condições para elaborar um despacho, pelo que todas estas medidas são ainda propostas sem data para entrar em vigor.

Em entrevista à Renascença, o presidente do Conselho Nacional para a Qualidade em Saúde sublinha que é necessário perceber as razões da afluência recorde às urgências.

Luís Campos acrescenta que faltam médicos de família e descreve lacunas nos centros de saúde.

“Temos centros de saúde que têm um bom acesso ao médico de família e temos ainda centros de saúde que não foram, ainda, abrangidos pela reforma dos cuidados primários, onde os doentes têm menos acesso aos cuidados de saúde. Se houvesse especialistas hospitalares nos centros de saúde e acesso a exames complementares, eventualmente, podia ser mais atractivo para os doentes terem acesso aos cuidados primários”, sugere o presidente do Conselho Nacional para a Qualidade em Saúde.