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Ordem dos Médicos suspeita de favorecimentos nos concursos ao SNS

20 nov, 2014

Em causa está o favorecimento a colegas que tinham feito a especialidade no hospital ao qual pertenciam os elementos do júri.

A Ordem dos Médicos anunciou esta quinta-feira que pretende fazer uma auditoria aos concursos no Serviço Nacional de Saúde, por suspeitar de favorecimentos ilícitos durante a fase de entrevistas a candidatos.

Segundo o bastonário José Manuel Silva, já foi feita uma denúncia ao Ministério Público, a propósito de um concurso específico, em que se suspeita de favorecimento a colegas que tinham feito a especialidade no hospital ao qual pertenciam os elementos do júri.

Neste concurso para contratação de jovens especialistas, que o bastonário se recusou a revelar onde tinha decorrido, houve médicos que desceram dois ou três valores em relação às notas de exame e outros que subiram também dois ou três valores.

"Não há cultura de isenção em Portugal para a realização deste tipo de entrevistas. Está a haver a subversão do espírito de avaliação, por causa da entrevista. Daí que o exame seja tão importante. Queremos fazer uma auditoria nacional para perceber o que se está a passar neste tipo de concursos", revelou José Manuel Silva, num encontro com jornalistas em Lisboa, para promover o XVII Congresso Nacional de Medicina.

O bastonário explicou que estes concursos são regionais, com júris escolhidos pelas administrações regionais da Saúde, considerando ainda que não faz sentido que os elementos que o compõem sejam predominantemente de um mesmo hospital.

Um caso concreto já foi enviado para análise ao Ministério Público, à Inspecção-geral das Actividades em Saúde e à Provedoria de Justiça.

Médicas questionadas sobre desejo de engravidar
O bastonário deu ainda conta de uma outra situação denunciada por várias médicas, a quem, nos concursos de selecção para o SNS, lhes era perguntado se pretendiam engravidar.

"O que me entristece e me deprime é estas perguntas terem sido colocadas por médicos", afirmou José Manuel Silva.

No XVII Congresso Nacional de Medicina um dos temas em debate é precisamente a questão da promoção da natalidade em Portugal.

"As mulheres têm cada vez menos condições para engravidar. Não se dá estabilidade nem condições de trabalho com dignidade e ainda se põem entraves. Perante isto, tudo o que se possa falar de medidas para aumentar a taxa de natalidade é uma hipocrisia", declarou o bastonário.