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Reportagem

Uma espécie de teatro a brincar, um assunto muito sério: o AVC

03 out, 2014 • Liliana Carona

Os profissionais do hospital da Covilhã saem de portas para explicar às crianças o que fazer se testemunharem um AVC.

Uma espécie de teatro a brincar, um assunto muito sério: o AVC
Como prevenir que um acidente vascular cerebral se torne uma catástrofe? Como diagnosticar os sintomas? São duas questões que a equipa de médicos e enfermeiros do Hospital da Covilhã leva às escolas, numa aposta na prevenção.

O sucesso do tratamento do AVC depende, em boa parte, do estado de alerta para os sintomas de quem está ao lado da vítima.

Do Centro Hospitalar da Cova da Beira, na Covilhã, sai uma equipa de médicos e enfermeiros com destino à escola Quinta das Palmeiras. São esperados por cerca de 60 alunos. A maioria tem 11 anos.

Miguel Braz é um deles. Está curioso: “Falaram-nos que vínhamos descobrir mais sobre AVC, mas não sei muito, não.”

Perante a plateia de olhar curioso, a enfermeira Liliana Afonso apressa-se a lançar o primeiro desafio: “Escrevam a primeira coisa que vos vem à cabeça quando pensam em AVC, só uma palavra”.

Afonso Teixeira, 11 anos, revela o que decidiu escrever no “post it”. “Vou escrever 'cardio' porque sei que afecta o coração.”

É uma espécie de teatro a brincar, mas sobre um assunto muito sério. Pedro Lito, médico interno no serviço de urgência, entra em cena para simular uma situação onde se apresentam os sinais e sintomas de AVC.

“O que aconteceu à avó Iria?”, pergunta o médico. Uma das crianças faz de avó: finge ter dificuldade na fala e de se levantar.

“Com estes sinais o que faziam?”, pergunta o profissional de saúde. Leonor, de 11 anos, simula o passo seguinte: o telefonema para o 112. ”A minha avó está com dificuldades em falar e andar”.

A enfermeira-chefe da unidade de AVC do Hospital da Covilhã Arminda Pinto interrompe a chamada fictícia para chamar a atenção dos meninos e meninas presentes. “É preciso saber exactamente onde as pessoas estão, é preciso ser rigoroso na informação que se dá”, alerta.

Vasco vai tratar a avó e rebenta um balão. Um desenho no chão representa o cérebro; o balão o coágulo que dá origem ao AVC; o telefone o pedido de auxílio junto do 112; e o lápis afiado significa o tratamento cuja eficácia depende, em boa parte, do estado de alerta para os sintomas de quem está ao lado da vítima e da precisão com que fornece as informações.

“Viu-se que o AVC era isquémico: não passava o sangue, havia um trombo”, conclui Pedro Lito.

No final, Ricardo Tjeng, o coordenador da unidade de AVC do Hospital da Covilhã (registou quase 400 utentes em 2013), pediu que todas as crianças transmitissem a mensagem quando chegassem a casa. “Esse panfleto não é para pôr na mochila. Passem a palavra, que é importante”.