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Epidemia de ébola fora de controlo, alertam Médicos Sem Fronteiras

30 jul, 2014

"Esta epidemia não tem precedentes, não está controlada, a situação agrava-se e ameaça estender-se ainda mais", diz o director de operações da organização.

Epidemia de ébola fora de controlo, alertam Médicos Sem Fronteiras
O vírus que mata 90% dos infectados continua a espalhar-se pelos países da África Ocidental. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o ébola já matou mais de 670 pessoas desde Fevereiro e chegou ao país mais populoso de África, a Nigéria, esta sexta-feira. Na Serra Leoa, os profissionais de saúde queixam-se de falta de recursos e de pessoas com experiência. "Simplesmente não conseguimos controlar a epidemia", admite um membro da OMS.

O director de operações da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), Bart Janssens, avisou, esta quarta-feira, numa entrevista publicada no jornal “Libre Belgique”, que a epidemia de ébola na África ocidental está a agravar-se e pode atingir outros países.

"Esta epidemia não tem precedentes, não está controlada, a situação agrava-se e ameaça estender-se ainda mais, sobretudo na Libéria e Serra Leoa, com focos muito importantes", declarou.

"Se a situação não melhora muito rapidamente, há um risco real de ver novos países atingidos", advertiu.

Janssens afirmou que esta possibilidade "não se pode excluir, mas é difícil de prever". “Nunca vimos uma epidemia assim e falta uma visão de conjunto para perceber onde se situam os principais problemas", sublinhou.

A MSF está "muito preocupada com os contornos que a situação assume, particularmente" na Libéria e na Serra Leoa, disse.

"Cabe à Organização Mundial de Saúde e aos governos destacar e organizar os meios necessários para desenvolver esforços e capacidade ao nível requerido para começar a controlar esta epidemia", concluiu o responsável da organização não-governamental.

O "herói" que morreu
Omar Khan, responsável médico do centro de tratamento do Ébola em Kenema, no leste da Serra Leoa, uma das regiões mais afectadas pela epidemia, morreu na terça-feira depois de ter contraído a doença na semana passada.

Considerado um "herói nacional" pelo trabalho com os doentes de Ébola, Khan foi admitido num centro de tratamento anti-Ébola, gerido pela MSF, em Kailahun, também no leste da Serra Leoa, depois de testes positivos ao vírus.

Em Londres, o Governo britânico anunciou a realização, durante o dia, de uma reunião interministerial de gestão desta crise, que considera "uma ameaça" para o Reino Unido.

"Até ao momento nenhum cidadão britânico (no estrangeiro) foi infectado e estamos bastante confiantes de que não existe qualquer caso [do vírus] no Reino Unido", declarou à estação BBC o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Philip Hammond.

O vírus do ébola "constitui uma ameaça à qual se deve dar uma resposta", frisou.

672 mortes
A epidemia, surgida no início do ano, foi declarada primeiro na Guiné-Conacri, antes de se estender à Libéria e depois à Serra Leoa, dois países vizinhos que, a 23 de Julho, totalizavam 1.201 casos e 672 mortes, de acordo com o último balanço da OMS.

O vírus do ébola transmite-se por contacto directo com o sangue, líquidos biológicos ou tecidos de pessoas ou animais infectados.

A febre manifesta-se através de hemorragias, vómitos e diarreias. A taxa de mortalidade varia entre os 25 e 90% e não é conhecida uma vacina contra a doença.