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Descobertas pegadas de dinossauro em praia de Cascais

16 jul, 2014 • Maria João Costa

São confundidas com poças, mas têm mais de 100 milhões de anos. As pegadas de dinossauro da praia da Parede vão ser divulgadas, em Setembro, num jornal científico.

Descobertas pegadas de dinossauro em praia de Cascais
À primeira vista parecem pequenas poças de água na rocha, mas são pegadas de dinossauros que há mais de 100 milhões de anos caminharam pela praia da Parede, no concelho de Cascais. Os investigadores acreditam tratar-se de marcas de pés e mãos de saurópodes, dinossauros de pescoço comprido. Esta descoberta vai ser publicada em Setembro, numa publicação da especialidade, e resulta do trabalho de uma equipa ibérica de investigação.

Sentada na sua cadeira de praia com o fato-de-banho vestido, uma veraneante da praia da Parede molha a mão numa poça de água na rocha. Mais à frente, duas crianças brincam de pá na mão atirando areia molhada para dentro de outra poça situada uns centímetros mais à frente. Nenhuma delas se apercebe que aquelas poças na rocha são afinal pegadas de dinossauros que há mais de 100 milhões de anos por ali andaram.

A descoberta também surpreendeu Vanda Santos, investigadora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa.

Com os pés na areia, Vanda Santos explicou à Renascença que conhece “esta praia há muitos anos” e que a frequenta “nem que seja ao final do dia para tomar um café” e que muitas vezes olhou para o que lhe pareciam “buracos”. Mas a ajuda, há dois anos, do colega Carlos Alberto Cupeto, da Administração da Região Hidrográfica do Tejo, alertou-a para a possibilidade de estar em presença de pegadas de dinossauros.

Feitos os estudos, o que antes eram apenas cavidades na rocha rapidamente se transformaram nas impressões de pés e mãos de um saurópode.

Vanda Santos explica que “três pegadas seguidas são o suficiente para termos uma pista que é um pé esquerdo, um pé direito, um pé esquerdo. Começamos a ter ali um parâmetro, ou seja, não estão aleatoriamente espalhada, tem a ver com a altura da perna do dinossauro”. Neste caso, acrescenta, “até parece que há um passo um bocadinho maior do que o outro”, o que é normal, “faz parte desta biomecânica. Bastava que este dinossauro tivesse um pescoço que é comprido mais virado para a direita para ter de compensar aquele movimento”.

A sequência está situada numa laje horizontal entre o solário a Oeste da praia da Parede e uma esplanada de madeira. As pegadas de pés e mãos têm 50 por 40 centímetros.

Vanda Santos, que agora quer que esta descoberta seja mais conhecida, diz à Renascença que “muitas vezes as crianças compreendem mais facilmente” de que dinossauro se trata: “Põe os braços à volta desta pegada e tentam perceber a perna do animal. E eu só vejo a criança a olhar desconfiada para cima e percebo que ela está a fazer o filme.”

Os banhistas da praia da Parede, que aproveitam o Sol mas também as propriedades medicinais da argila daquela zona, ainda não sabem, mas em Setembro esta descoberta científica vai sair num jornal da especialidade, o “Journal of Iberian Geology”, diz Vanda Santos, que trabalhou em conjunto com colegas de universidades de Madrid e Saragoça.

À autarquia de Cascais a equipa científica sugere a classificação deste património como imóvel de interesse municipal e a sua contextualização com painéis interpretativos, para que muitas crianças que brincam naquelas poças possam perceber que são pegadas de dinossauros.