16 jul, 2014 • Maria João Costa
Sentada na sua cadeira de praia com o fato-de-banho vestido, uma veraneante da praia da Parede molha a mão numa poça de água na rocha. Mais à frente, duas crianças brincam de pá na mão atirando areia molhada para dentro de outra poça situada uns centímetros mais à frente. Nenhuma delas se apercebe que aquelas poças na rocha são afinal pegadas de dinossauros que há mais de 100 milhões de anos por ali andaram.
A descoberta também surpreendeu Vanda Santos, investigadora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa.
Com os pés na areia, Vanda Santos explicou à Renascença que conhece “esta praia há muitos anos” e que a frequenta “nem que seja ao final do dia para tomar um café” e que muitas vezes olhou para o que lhe pareciam “buracos”. Mas a ajuda, há dois anos, do colega Carlos Alberto Cupeto, da Administração da Região Hidrográfica do Tejo, alertou-a para a possibilidade de estar em presença de pegadas de dinossauros.
Feitos os estudos, o que antes eram apenas cavidades na rocha rapidamente se transformaram nas impressões de pés e mãos de um saurópode.
Vanda Santos explica que “três pegadas seguidas são o suficiente para termos uma pista que é um pé esquerdo, um pé direito, um pé esquerdo. Começamos a ter ali um parâmetro, ou seja, não estão aleatoriamente espalhada, tem a ver com a altura da perna do dinossauro”. Neste caso, acrescenta, “até parece que há um passo um bocadinho maior do que o outro”, o que é normal, “faz parte desta biomecânica. Bastava que este dinossauro tivesse um pescoço que é comprido mais virado para a direita para ter de compensar aquele movimento”.
A sequência está situada numa laje horizontal entre o solário a Oeste da praia da Parede e uma esplanada de madeira. As pegadas de pés e mãos têm 50 por 40 centímetros.
Vanda Santos, que agora quer que esta descoberta seja mais conhecida, diz à Renascença que “muitas vezes as crianças compreendem mais facilmente” de que dinossauro se trata: “Põe os braços à volta desta pegada e tentam perceber a perna do animal. E eu só vejo a criança a olhar desconfiada para cima e percebo que ela está a fazer o filme.”
Os banhistas da praia da Parede, que aproveitam o Sol mas também as propriedades medicinais da argila daquela zona, ainda não sabem, mas em Setembro esta descoberta científica vai sair num jornal da especialidade, o “Journal of Iberian Geology”, diz Vanda Santos, que trabalhou em conjunto com colegas de universidades de Madrid e Saragoça.
À autarquia de Cascais a equipa científica sugere a classificação deste património como imóvel de interesse municipal e a sua contextualização com painéis interpretativos, para que muitas crianças que brincam naquelas poças possam perceber que são pegadas de dinossauros.