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Avaliação dos centros de investigação está a "separar o trigo do joio"

14 jul, 2014 • Cristina Nascimento

Fundação para a Ciência e a Tecnologia defende-se das críticas do meio científico. Cerca de metade das unidades avaliadas vão ficar com pouco ou nenhum financiamento da FCT nos próximos cinco anos.

A Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) rejeita as críticas de que tem sido alvo a propósito da avaliação em curso nas unidades de investigação. À Renascença, o presidente da FCT, Miguel Seabra, garante que o “processo de avaliação é o mais robusto e o mais transparente que alguma vez se fez”.
 
Das 322 unidades em avaliação, quase metade recebeu uma nota que os deixa com a corda na garganta: 71 unidades de investigação tiveram nota “Insuficiente” ou “Razoável” e deixam de receber financiamento da FCT e 83 conseguiram “Bom”, o que significa que têm algum dinheiro (o montante é variável consoante a dimensão do centro) mas considerado insuficiente. Os responsáveis pelos centros de investigação ouvidos pela Renascença temem o fim da investigação e apontam duras críticas ao processo.
 
O presidente da FCT rejeita que este concurso represente um corte ao financiamento da investigação científica.
 
Quem é que avalia as unidades de investigação?
Encomendámos a avaliação à European Science Foundation (ESF), uma entidade europeia de grande prestígio, com experiência nesta matéria, fez publicações sobre boas práticas do que são avaliações por pares, que é o caso desta, e, como tal, tem toda a capacidade, experiência e integridade para delinear este exercício.
 
Mas o processo tem sido alvo de muitas críticas…
Acho essas críticas normais, são parte do processo. A FCT defende toda a robustez do processo, nunca tivemos um processo tão robusto porque envolveu muitas opiniões muito independentes. As críticas que têm sido apontadas são críticas com as quais a FCT não concorda.
 
Isso quer dizer que, por exemplo, a FCT concorda que um centro que investigue questões relacionadas com a lusofonia seja prejudicado por isso, como diz o vice-reitor da Universidade de Coimbra?
Houve dois temas que tratámos com particular atenção com a ESF: um foi o tema da lusofonia e o outro foi o tema da investigação aplicada da tecnologia. São dois temas que a comunidade científica, em consultas que fizemos, considerou que talvez tenham sido objecto de alguma discriminação por parte da FCT. Em relação à lusofonia e os centros que tratam desta matéria, posso dizer-lhe houve uma percentagem semelhante entre aqueles que tiveram “Muito Bom” ou nota superior e aqueles que tiveram nota “Bom” ou inferior. Não há nenhuma discriminação da lusofonia, a ESF conseguiu atender de forma excelente às nossas preocupações. O que lhe posso dizer é que, como em outras áreas, se separou o trigo do joio.
 
Mas a verdade é que há muitos centros que se mostram surpreendidos com a nota e com o seu futuro…
Em compensação há 10% de unidades que viram a sua nota melhorar e há unidades que se fundiram, viram as suas notas melhoras e aumentaram a sua massa crítica. Houve muita coisa que aconteceu, houve uma reestruturação bastante importante na nossa comunidade. Acho que era importante olhar para os dois aspectos e não são para aqueles que se sentem injustiçados por esta avaliação.
 
Não o preocupa que quase metade dos centros de investigação fiquem numa situação que muitos consideram ser o princípio do fim das suas actividades de investigação?
Obviamente que causa preocupação. Temos recebido nesta última semana muitas unidades que nos vieram trazer essas preocupações. No momento da apresentação dos resultados da primeira fase, indiquei imediatamente que a FCT ia estar num processo de diálogo com a comunidade. Vamos olhar caso a caso para aquelas unidades que ficaram desapontadas com este exercício de avaliação para podermos elaborar planos de desenvolvimento dessas unidades. O objectivo da FCT é continuar a melhorar a qualidade, a excelência e a competitividade da nossa ciência sem destruir nada daquilo que está ainda emergente ou pouco competitivo.
 
Quais são as verbas que vão estar disponíveis para o financiamento das unidades de investigação?
Estão previstas verbas na ordem dos 50 milhões de euros anuais para o período 2015-2020 (valor semelhante ao do período 2010-2015).