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Portugal forma enfermeiros e Grã-Bretanha aproveita

12 ago, 2013 • Letícia Amorim, em Londres

Desinvestimento britânico na formação coincide com um claro aproveitamento de mão-de-obra estrangeira em Inglaterra, com os portugueses no topo das preferências.

O número de enfermeiros estrangeiros registados em Inglaterra quase duplicou desde 2008. Nos mesmos sete anos, caíram 18% as vagas de cursos de enfermagem na Grã-Bretanha.

“O número de vagas para estes cursos no Reino Unido tem vindo a ser reduzido, primeiro, por razões financeiras – numa tentativa de poupar dinheiro. E é três anos depois desses cortes que se começa a sentir o impacto, quando os empregadores se perguntam como podem preencher esse vazio. Passou a ser prática comum recrutarem no estrangeiro”, explica à Renascença Howard Catton, do sindicato dos enfermeiros.

Entre 2008 e 2012, quase 1.300 novos enfermeiros portugueses registaram-se no Reino Unido, segundo a entidade britânica responsável pelo registo dos enfermeiros e parteiros – Nursing and Midwifery Council. São mais profissionais em quatro anos do que os que tinham chegado de Portugal antes da vaga de emigração.

Portugal está no pódio dos países que fornecem enfermeiros, depois da Roménia e da Espanha.

“Ouvimos dizer que a contribuição destes profissionais é muito bem vista e que eles são tidos em alta consideração e são respeitados", refere o mesmo sindicalista do Royal College of Nursing.

Mas porque trabalhar no sistema nacional de saúde não é o mesmo do que trabalhar para empresas privadas, que prestam esses cuidados, Howard Catton deixa um conselho para todos os que pensam em emigrar para o Reino Unido.

“Para algumas pessoas a trabalhar nos privados, os salários são mais baixos do que no sistema público. Também as outras condições, os termos dos contratos podem ser menos vantajosos. Avisamos sempre as pessoas para se aconselharem. Aqui no Royal College of Nursing prestamos esse serviço às pessoas, sobre os contratos e os termos desses contratos", afirma.

Até ao último ano, registavam-se mais de 2.300 enfermeiros portugueses no Reino Unido.

As autoridades britânicas justificam o desinvestimento na formação com um quadro de recessão.


Ordem dos Enfermeiros fala em “desarticulação de políticas”
Em Portugal, a Ordem dos Enfermeiros reage aos números britânicos considerando que vêm confirmar o desaproveitamento nacional de todo o investimento na formação de enfermeiros: 350 milhões de euros é o total apurado pela Ordem.

O vice-presidente, Bruno Noronha, diz que a questão já foi apresentada ao Governo
português, mas falta estratégia do executivo.

“Já expusemos o problema ao Ministério da Saúde, ao Ministério agora do Emprego e ao próprio Ministério dos Negócios Estrageiros e não vimos que houvesse uma estratégia, nem percebemos que houvesse preocupação em relação ao fenómeno. O que sentimos é que há uma grande desarticulação entre políticas, porque, por um lado, o número de enfermeiros necessários nas instituições de saúde em Portugal está a decrescer, mas da parte do Ministério do Ensino Superior continua a haver autorização para abrir as vagas”, afirma.

“Este ano, vai haver aumento de vagas para os cursos de enfermagem. Formam-se mais pessoas que ou vão para o desemprego ou vão fazer alguma coisa para a qual não se formaram ou então emigram”, conclui.