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Médicos acusam Ministério de “racionamento encapotado” de medicamentos

08 jun, 2013

Bastonário da Ordem dos Médicos diz ainda que há hospitais a recusar fazer tratamentos a doentes transferidos de outras unidades de saúde onde esses tratamentos não existem.

Médicos acusam Ministério de “racionamento encapotado” de medicamentos
"Há atrasos inexplicáveis, que são claramente uma forma de racionamento encapotado, na aprovação de alguns fármacos", argumenta José Manuel Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos. Em declarações ao programa da Renascença "Em Nome da Lei", o representante dos médicos diz ainda que por causa da austeridade há hospitais que estão a recusar fazer tratamentos a doentes transferidos de outras unidades de saúde onde esses tratamentos não existem.
O bastonário da Ordem dos Médicos acusa o Ministério da Saúde de estar a fazer “racionamento encapotado” de medicamentos. José Manuel Silva explica que em causa está, por exemplo, a aprovação de novos remédios, nomeadamente para o cancro.

“O que nós temos assistido é a atrasos inexplicáveis, que são claramente uma forma de racionamento encapotado, na aprovação de alguns fármacos”, acusa o bastonário, que dá como exemplo “o caso de um fármaco para as metástases dos cancros da próstata que está a ser utlizado nalguns hospitais e noutros não”.

José Manuel Silva sublinha que “há hospitais que apresentam muito bons resultados e até são considerados como um dos melhores, mas são tudo parâmetros estatísticos e administrativos que estão a ser analisados”. No entanto, alerta, “a qualidade das terapêuticas e a utilização ou não de determinadas terapêuticas não é feita”.

Em entrevista à Renascença, o bastonário denuncia também que, por causa da crise e da austeridade a que está sujeito o Sistema Nacional de Saúde, há hospitais a recusar fazer tratamentos a doentes transferidos de outras unidades de saúde onde esses tratamentos não existem.

“Os hospitais que executam essas técnicas, mesmo recebendo os doentes com termo de responsabilidade, começam a recusá-los, porque têm as despesas inerentes mas depois não recebem o financiamento”, afirma.

José Manuel Silva diz ainda que, com a lei dos compromissos, os hospitais “ficam encostados à parede porque não podem adquirir o material” dado que “não recebem o financiamento e não têm disponibilidade de tesouraria a 90 dias para pagar esse tipo de despesas”.

Assim, lamenta, “os doentes voltam para trás ou arranjam-se depois mecanismos de justificar a recusa, sem assumir uma recusa” e “em última instância, quem é o prejudicado é sempre o doente”.

O bastonário da Ordem dos Médios considera ainda que “estamos assistir a constrangimentos graves na qualidade e na capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde que afectam a acessibilidade dos doentes”. Por isso, José Manuel Silva defende que não há espaço para mais cortes, mas há para gerir melhor.

O bastonário da Ordem dos Médicos é o convidado do programa “Em Nome da Lei” que pode ouvir na Renascença, aos sábados, entre as 12h00 e as 13h00.