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Hospitais "estão a reduzir" dosagens dos medicamentos para hemofílicos

16 abr, 2013

"Temos assistido, por parte das administrações hospitalares dos hospitais, a um controlo da medicação que é disponibilizada. Antigamente, os pais faziam um levantamento mensal para fazer o tratamento aos filhos em casa e agora são obrigados a ir semanalmente", diz associação do sector.

A Associação Portuguesa de Hemofilia (APH) diz que os hospitais estão a reduzir a dosagem dos medicamentos e a obrigar os doentes a deslocarem-se mais vezes para recolher a medicação. A propósito do dia mundial da hemofilia, que se assinala quarta-feira, Miguel Crato, da APH, falou das actuais preocupações da associação, que se prendem com a disponibilização dos medicamentos para o tratamento profiláctico da hemofilia.

Conforme explicou, a hemofilia é uma "doença incapacitante", que tem na base dois tipos de tratamento: um para as situações em que o doente tem hemorragias e outro profiláctico, feito duas ou três vezes por semana, para prevenir as hemorragias e ter mais qualidade de vida.

"Temos assistido, por parte das administrações hospitalares dos hospitais, a um controlo da medicação que é disponibilizada. Antigamente, os pais faziam um levantamento mensal para fazer o tratamento aos filhos em casa e agora são obrigados a ir semanalmente", afirmou.

Esta situação é particularmente grave para as pessoas que moram a vários quilómetros de distância dos hospitais, uma vez que esta medicação é distribuída apenas nos hospitais centrais de Lisboa, Porto e Coimbra, acrescenta Miguel Crato. O medo de perderem o emprego por se ausentarem com tanta frequência é algo que também pesa a estes pais, que podem acabar por pôr em causa o tratamento, alerta Miguel Crato.

Redução das dosagens preocupa pais
Outro problema com que se deparam estes doentes é a redução das dosagens dadas pelos hospitais. "A associação tomou conhecimento de casos em que se fazia uma determinada dosagem, de determinado valor, e essa dosagem foi reduzida por razões orçamentais."

Segundo Miguel Crato, se se altera a dosagem prescrita pelo médico, há riscos de o doente ter hemorragias, "o que efectivamente veio a comprovar-se com crianças". "Houve pais que tiveram de alterar as dosagens dos filhos e a incidência de hemorragias aumentou", sublinhou.

A APH tem queixas a este respeito de todos os hospitais e já deu conhecimento desta situação no início de Fevereiro ao Hospital D. Estefânia e ao secretário de Estado da Saúde.

Do hospital, obteve a resposta de que "estariam atentos e tudo fariam para que não faltasse tratamento", mas o problema é que o que está em causa é a medicação para a profilaxia e não para o tratamento em si.

A APH tem 700 pessoas registadas, não só hemofílicos, mas doentes com outros problemas de coagulação. No entanto, estima-se que haja um caso de hemofilia por cada dez mil nascimentos.