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Cinema

"Há muita lucidez" atrás dos muros do Conde Ferreira

07 mai, 2015

Jorge Pelicano entrou com uma câmara no universo desconhecido de um hospital psiquiátrico e descobriu que "há muita lucidez no meio daquele pensamento, naquele cérebro que tem uma doença". O documentário "Pára-me de Repente o Pensamento" chega esta quinta-feira às salas de cinema.

"Há muita lucidez" atrás dos muros do Conde Ferreira
"Pára-me de repente o pensamento" é um documentário que mostra o mundo da doença mental sob ângulos pouco explorados. Acompanha o actor Miguel Borges, que submergiu, durante três semanas, na realidade do Hospital Psiquiátrico Conde de Ferreira, no Porto, para preparar uma peça de teatro sobre a loucura.

Estreia-se esta quinta-feira nas salas de cinema o documentário "Pára-me de Repente o Pensamento", de Jorge Pelicano. Filmado no hospital psiquiátrico Conde de Ferreira, no Porto, é feito da relação entre um actor que prepara uma peça de teatro e os utentes que o ajudam a perceber "a loucura".

Com os documentários "Ainda Há Pastores?" e "Pára, Escuta e Olha" no currículo, o realizador conta, em entrevista à Lusa, que lhe interessa, "do ponto de vista cinematográfico, retratar lugares desconhecidos". E "os hospitais psiquiátricos fazem parte desse leque do desconhecido, porque, ao longo de décadas, nunca foram espaços abertos à sociedade em geral e muito menos ao cinema".

O filme procura ser "muito de diálogos e de tentar perceber que há muita lucidez no meio daquele pensamento, naquele cérebro que tem uma doença", acrescenta Jorge Pelicano.

Em "Pára-me de Repente o Pensamento", cujo título advém de um poema de Ângelo de Lima, o actor Miguel Borges entra no hospital e lá permanece durante três semanas, para preparar uma peça de teatro sobre loucura, acabando por fazer parte do elenco de uma outra peça sobre os mais de 130 anos da instituição.

Filme "duro", mas com "riso"
"É um filme muito difícil de fazer, com muitas limitações, a câmara não anda livre, o realizador não pode andar livre, se há uma censura também é minha. Às vezes havia utentes que não tinham noção do que eu estava a fazer. Houve histórias que não consegui contar porque não sabia a maneira de as contar", reconheceu Jorge Pelicano.

Isto porque, além de o próprio hospital ter de cumprir a sua missão de proteger os utentes, uma das premissas do documentário "era tentar contar uma história, mas uma que conseguisse respeitar aqueles utentes que lá estão".

"É um filme duro, mas também com algum riso, porque há personagens que são engraçadas e que nos ajudam a rir e que livram alguma dureza que o próprio filme tem. É um filme de amor, porque há muito amor naquele filme. O Miguel Borges sentiu muito amor, muito carinho, muito afetco", realçou o realizador.

Desde a apresentação no DocLisboa, o filme já recebeu vários prémios, como o Grande Prémio dos Caminhos do Cinema Português, onde também recebeu o Prémio do Público e de Melhor Realizador, além do prémio do festival Signes de Nuit.

"Pára-me de Repente o Pensamento" teve estreia mundial no DocLisboa, no ano passado, e passa a estar disponível em sala, a partir de hoje, no cinema City Alvalade, em Lisboa, e no UCI Arrábida, em Vila Nova de Gaia, tendo previstas exibições na Guarda, na Figueira da Foz e em Viseu durante este mês.

Esta quinta-feira à noite, o Teatro Nacional de São João, no Porto, acolhe ainda uma sessão especial com a presença de utentes do hospital psiquiátrico, que está esgotada desde o passado fim-de-semana.