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De que falam o escritor Mário Cláudio e o poeta Fernando Echevarría?

28 fev, 2015 • Maria João Costa

Na Póvoa de Varzim, onde decorre o festival literário Correntes d'Escritas, o autor Mário Cláudio e o poeta Fernando Echevarría, vencedor do Prémio deste ano das Correntes estiveram à conversa no programa “Ensaio Geral” da Renascença.

De que falam o escritor Mário Cláudio e o poeta Fernando Echevarría?

Conhecem-se e admiram mutuamente o trabalho um do outro. Mário Cláudio, escritor que na Póvoa de Varzim está a lançar o livro “O Fotógrafo e a Rapariga”, e o poeta português de origem espanhola Fernando Echevarría sentaram-se frente-a-frente para falar de livros, da arte da escrita, mas também de Deus e dos terroristas do autodenominado Estado Islâmico.

No programa “Ensaio Geral”, realizado no novo Cine-Teatro Garrett da Póvoa de Varzim no âmbito de mais uma edição do festival Correntes d'Escritas, Fernando Echevarría, que ganhou este ano o Prémio Literário Casino da Póvoa, começou por falar da exigência da poesia. Para o autor de “Categorias e outras Paisagens” ler poesia “exige uma maior concentração e um maior silêncio” e por conseguinte “em geral os leitores de poesia são melhores leitores”.

E é na expectativa que os leitores gostem do seu novo livro que Mário Cláudio falou sobre “O Fotógrafo e a Rapariga”. O livro que encerra uma triologia aborda a relação entre o escritor Lewis Carroll e Alice, uma rapariga que o inspirou a escrever “Alice no País das Maravilhas”. No “Ensaio Geral”, o autor explicou que o livro “aborda uma relação extremamente complexa” e que “levanta o fantasma da pedofilia” que no seu entender “é um tema inquietante e preocupante que obriga a uma reflexão racionalizada e não a uma resposta emocional”.

Falando sobre o seu laboratório de escrita, o poeta Fernando Echevarría – que já venceu entre outros o Prémio Padre Manuel Antunes atribuído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura – ironizou dizendo que “antigamente resolvia-se isso com as Musas, mas hoje as Musas dão menos jeito”.

Echevarría distinguiu o trabalho de escrita de um poeta do trabalho de um ficcionista. “No trabalho do poeta predomina uma intuição forte”. Já Mário Cláudio, autor galardoado em 2004 com o Prémio Pessoa, explicou que o seu laboratório de escrita “obriga a uma rotina”, embora haja também “intuição no início”.

Estudioso de Teologia como gosta de dizer que é, Fernando Echevarría falou da sua relação da beleza do divino e a arte da poesia e de São João da Cruz que tinha uma visão muito fina do que era escrever. Já Mário Cláudio que afirma ser um “católico de formação” abordou a sua relação com Deus. O autor diz que “é cada vez mais profunda e inquieta, mas também mais tranquila”.

A terminar o programa em que participou também Guilherme d'Oliveira Martins – o presidente do Centro Nacional de Cultura que fez a conferência de abertura das Correntes d'Escritas dedicada ao tema “Quem tem medo da cultura” -, os dois entrevistados falaram ainda da questão da destruição de património por parte de militantes do autoproclamado Estado Islâmico, num museu do Iraque. Fernando Ecehvarría quis sublinhar a diferença entre cultura e civilização que não pode admitir a “barbárie”. E disse não perceber bem “essa gente”. Por seu lado, Mário Cláudio afirmou que não concebe a cultura sem liberdade e deu exemplos de outros atentados contra bens culturais para concluir que aquilo que não muda “é a estupidez humana”.

O programa “Ensaio Geral”, emitido a partir da Póvoa de Varzim, teve assistência técnica de Fernando Fernandes.