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Vai o fado aquecer o "povo que tem frio"? O Grammy Latino é de Carlos do Carmo

19 nov, 2014

Prémio é dado ao fadista esta quarta-feira, em Las Vegas. Espera que seja uma "alegria" no "momento de sofrimento" que o país atravessa.

Vai o fado aquecer o "povo que tem frio"? O Grammy Latino é de Carlos do Carmo
"Alvorando a minha voz/ Cujo coração pediu/ Queria que o fado aquecesse/ O meu povo que tem frio". Carlos do Carmo socorre-se de uma quadra que cantou para dizer o que lhe vai na alma: espera que o Grammy Latino de Carreira, que recebe esta quarta-feira, em Las Vegas, nos Estados Unidos, seja uma "alegria" para os portugueses.

"Num momento de sofrimento como o que o meu povo está a viver, e a minha pátria está a viver, a alegria que possa dar às pessoas, apesar da simplicidade que as coisas têm - isto não lhes mata a fome, nem lhes arranja emprego -, mas que possa dar-lhes uma alegria, já fico muito contente", diz o fadista à Lusa.

A 1 de Julho, quando foi divulgado que tinha sido distinguido pela Latin Academy of Recording Arts and Sciences (LARAS), Carlos do Carmo recebeu "mais de 600 e tal telefonemas de felicitações". Uma "coisa tresloucada".

O criador de "Os Putos" vai receber um "Lifetime Achivement Grammy", da LARAS, que distingue carreiras de referência no panorama musical internacional, no universo latino.

Com uma carreira de 51 anos, Carlos do Carmo é "um dos maiores fadistas do seu tempo", afirmou a LARAS.

O músico será o primeiro artista português a receber o prémio de carreira. A soprano Elisabete Matos foi distinguida no segmento da música clássica, nos primeiros Grammy Latinos, em 2000.

"Vocês não dar a conhecer-se"
Na entrevista que deu à Lusa, Carlos do Carmo afirmou que um dos seus objectivos na cerimónia de entrega dos Grammy latinos é divulgar a música feita em Portugal.

"O problema é dar-se a conhecer. O que me disse, por telefone, o presidente da Academia Latina foi: 'Vocês não se dão a conhecer, é uma pena'", contou o fadista, de 74 anos.

Fazendo uma reflexão da sua carreira, Carlos do Carmo, filho da fadista Lucília do Carmo, afirmou: "Corri sempre em pista própria e não em pista de competição, nunca competi, até porque cantar não é o mesmo que correr. Há sempre gostos. Uns gostam mais de A, outros, de B. Isso não quer dizer que A ou B cantem muito bem ou cantem mal, são os gostos das pessoas".

"Eu fiz este meu caminho que não foi das pedras, mas que considero um caminho sempre saudável e que me levou sempre a ter uma perspectiva de ser solidário com os meus companheiros de profissão. Não me recordo de ter feito uma sacanice a um colega de profissão. E, para esta nova geração, estou de braços abertos.”

Carlos do Carmo disse que, quando trouxer o Grammy Latino, o irá entregar ao Museu do Fado, em Lisboa, onde se encontra também o Prémio Goya: "É um prémio que pertence ao fado, a mim, a todos nós".