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Modiano. O escritor da memória que também escreve canções

09 out, 2014 • Carolina Rico

Foi comparado a Marcel Proust pela Academia Sueca, mas em Portugal os seus livros pouco venderam. Patrick Modiano é o vencedor do Nobel da Literatura deste ano.

Modiano. O escritor da memória que também escreve canções
O autor de 69 anos é considerado um dos mais importantes escritores franceses. "O Horizonte" é o seu romance mais recente. Foi o 11º escritor francês a ser distinguido com o Nobel da Literatura.
Foi comparado a Marcel Proust pelo escritor e historiador sueco Peter Englund, mas em Portugal os seus livros pouco venderam, disse à Renascença Manuel Alberto Valente, da Porto Editora, responsável pela publicação de Patrick Modiano em território português.

Modiano, agraciado esta quinta-feira com o Prémio Nobel da Literatura, nasceu nos primórdios do fim da II Guerra Mundial, mas a memória da ocupação nazi em França, e suas consequências, é tema que ocupa grande parte dos seus livros, romances por vezes interligados, unidos pela História.

Tal como o francês Proust, considerado o precursor do romance contemporâneo, Modiano faz da memória espelho da realidade e caminho para a busca da identidade.

Paris é quase personagem dos seus livros, cujas histórias têm muitas vezes um carácter autobiográfico, mas também pedaços de actualidade feita memória: entrevistas, artigos de jornal ou notas escritas pelo próprio, acumuladas ao longo dos anos.


Minutos depois do anúncio do Nobel, já havia quem disputasse os últimos exemplares dos livros de Modiano na Suécia. Foto: Henrik Montgomery/EPA

"Nos últimos tempos, Bosmans pensava em certos episódios da sua juventude, episódios sem continuação, cortados cerce, rostos sem nome, encontros fugazes. Tudo isto pertencia a um passado longínquo, mas como estas breves sequências não estavam ligadas ao resto da sua vida, permaneciam em suspenso, num eterno presente". Começa assim "o Horizonte", o último romance do autor francês, editado em Portugal pela Porto Editora em 2011.

Autor de mais de 30 títulos, incluindo livros infantis, poucos conhecem outra faceta do escritor francês: Patrick Modiano também escreveu várias canções. A mais conhecida, de 1968, chama-se “Étonnez-moi, Benoît!” (Surpreende-me, Benoît).

Françoise Hardy é quem dá voz as palavras do Nobel: "Surpreende-me, Benoît/ caminha sobre as mãos/engole pinhas/pêssegos e peras/ e lâminas de barbear, surpreende-me".