Emissão Renascença | Ouvir Online

Rafael Moneo. Quando a arquitectura é uma atitude

17 set, 2014 • Maria João Costa

Único prémio Pritzker espanhol mostra uma vida de trabalho no Centro Cultural de Belém. Elogia Siza Vieira e o "elevado nível da arquitectura portuguesa".

Rafael Moneo. Quando a arquitectura é uma atitude

O arquitecto Rafael Moneo mostra a sua obra em Lisboa. Na garagem sul do Centro Cultural de Belém (CCB), até 23 de Novembro, o público português poderá ver projectos que fazem o percurso do único prémio Pritzker espanhol, que desenhou, por exemplo, a ampliação da Estação Atocha de Madrid ou a renovação do Museu Thyssen, também na capital espanhola.

Nesta revisão de meio século de trabalhos do arquitecto que já completou 78 anos encontramos uma longa biografia, explica Rafael Moneo, que olha para os seus projectos sem se arrepender de um.

“Acho que no momento em que se projectaram e construíram estes projectos respondiam ao que eu desejava e ao que queria fazer. Outra coisa é que agora, vistos em conjunto, intimidam-me um pouco e mostram-me como já é longa a minha carreira profissional”, diz o mestre espanhol.

No seu curriculum inicial, Rafael Moneo tem um projecto para a emblemática Praça Obradoiro, em frente à catedral de Santiago de Compostela. No seu percurso tem obras de referência como o Museu de Arte Romana, em Mérida.

Na mostra produzida pela Fundação Barrié, sedeada na Corunha e comissariada por Francisco González de Canales, encontramos 18 maquetas, 142 fotografias e 98 desenhos.



Retrospectiva de Moneo, no CCB. Foto: Tiago Petinga/Lusa

"Obras são de quem as usa"
“Lembro-me completamente de todos os projectos. Mas acho que o que acontece é que a obra de um arquitecto, quando passa a estar nas mãos de quem a usa deixa de ser sentida como propriedade do arquitecto. Então vendo todas estas obras reconheço o trabalho que fiz, mas olho também com alguma distância de quem já entende que as obras não são completamente suas. São de quem as usa”, diz Rafael Moneo.

O arquitecto considera como “mais seus” os trabalhos que não chegaram a ser construídos e que se ficaram pelo papel.

Além do Prémio Pritker, considerado o Nobel da Arquitectura, Rafael Moneo venceu há dois anos o Prémio Príncipe das Astúrias para as Artes. Este pai de três filhas e avô de seis netos sabe que a arquitectura é mais do que construir casas.

“Sem dúvida que, como arquitecto, sou muito consciente do papel instrumental que os edifícios têm para as pessoas e para a sociedade. Acompanhando essa condição de instrumento e essa exigência funcional, deposita-se também sobre a obra de arquitectura muitas outras coisas, desde interesses estritamente estéticos, até atitudes ideológicas da vida, e isso faz com que a obra de arquitectura nasça com uma complexidade que não me permite dizer que só crio a pensar em quem vai usar. Inevitavelmente, e esta exposição mostra-o, a arquitectura é um conhecimento partilhado.”

E há ou não uma marca na sua arquitectura? Rafael Moneo prefere falar numa atitude. “Não creio que o meu trabalho se caracterize por uma certa força ou um certo estilo. Quem sabe a minha condição de estar sempre ligado ao ensino e à investigação me tenha deixado próximo daquilo que um edifício deve ser a cada momento. Isso deu lugar a uma obra que se pode classificar como diversa. Talvez o que tenha em comum seja uma certa atitude”, sublinha.

Rendido a Siza Vieira
Questionado sobre os seus pares portugueses, Rafael Moneo elege Siza Vieira como a referência da arquitectura nacional e mundial.

“Eu acho que a arquitectura portuguesa tem um elevado nível. Tem um ambiente arquitectónico singular porque desde há 40/50 anos tem a referência de uma figura tão proeminente e importante como Álvaro Siza Vieira”, destaca.

Para Rafael Moneo, Siza Vieira “é um dos arquitectos vivos mais importantes” e “fez com que gente próxima, como o Eduardo Souto Moura ou a escolas de arquitectura portuguesa, sejam muito respeitados no mundo”.

O mestre espanhol destaca mais nomes. “Há outros arquitectos importantes. Em Lisboa há o Gonçalo Byrne, os Aires Mateus, João Luís Carrilho da Graça. Realmente, é difícil enumerar todos, mas em última análise têm como referencia Álvaro Siza Vieira que tem um elevado nível de qualidade”, conclui.