Emissão Renascença | Ouvir Online

Depois dos "anos de chumbo", o Rivoli "já mexe"

12 set, 2014 • Inês Alberti

Teatro municipal do Porto reabre esta sexta-feira. Câmara quer pô-lo "dentro da cidade". "Há uma grande expectativa", dizem os artistas.

Depois dos "anos de chumbo", o Rivoli "já mexe"
Em 2006, Francisco Alves e cerca de 50 outras pessoas ocuparam o Teatro Rivoli, no Porto, em protesto contra as políticas culturais de Rui Rio.

Oito anos depois, o Rivoli reabre esta sexta-feira com o espectáculo "Mozart Concert Arias", da Companhia Nacional de Bailado, integrado no ciclo "Rivoli Já Dança". O ciclo durará até Janeiro de 2015, mês em que arranca a programação com assinatura do novo director artístico do Rivoli, Tiago Guedes.

O "Rivoli Já Dança" pretende dar uma nova vida ao teatro, mais aberto aos projectos municipais, depois de um período entregue ao encenador Filipe La Féria e outro em que o Rivoli só recebeu projectos pontuais.

"É inadmissível o que aconteceu no Rivoli. O reinado de Rui Rio do ponto de vista cultural foi verdadeiramente criminoso", critica Francisco Alves, director do Teatro Plástico, um dos principais rostos do movimento que ficaria conhecido como "Rivolição".

"Foram anos de chumbo em que o teatro esteve completamente desbaratado e o equipamento público foi completamente desaproveitado", critica.

A herança La Féria
Numa entrevista ao jornal "Público", o actual director do teatro municipal, Tiago Guedes, revelou que o teatro "não tem sido bem cuidado". O Rivoli, disse, foi "deixado em muito mau estado pelo Filipe La Féria".

Da oposição surgiram vários pedidos de esclarecimentos sobre o assunto. O vereador da CDU na Câmara do Porto, Pedro Carvalho, quer que seja realizada uma auditoria à forma como o Rivoli foi gerido por La Féria, após a extinção da Culturporto.

À Renascença, o vereador da Cultura da Câmara do Porto, Paulo Cunha e Silva, afirma que a entrevista de Tiago Guedes pode ter sido "um bocado excessiva relativamente ao estado das coisas."

O único investimento a fazer, diz o vereador, é "um palco que tem de ser reduzido em 30 centímetros e, portanto, há de ser feito um investimento no palco, mas isso já se sabia".

Francisco Alves é mais crítico. Diz que a herança de La Féria é mais pesada do que um palco que tem de ser reduzido. Mas o presente do Rivoli também está na mira: acusa o vereador de "dirigismo cultural" e diz que a escolha de Tiago Guedes foi uma "processo de fraude".

Contactado pela Renascença, Tiago Guedes não quis fazer declarações.

"Colocar o Rivoli dentro da cidade"
"Apesar desta sombra e apesar de o Tiago Guedes não ter sido escolhido de uma forma idónea, esperemos que isto se possa ultrapassar e que ele possa fazer uma programação plural, democrática, aberta a todos, sem exclusões", ressalva Francisco Alves.

Paulo Cunha e Silva explica que é precisamente isso que o "Rivoli já Dança" espera conseguir. "'Rivoli já Dança' quer dizer que o Rivoli já mexe, já acontece", diz.

É "um novo ciclo" e para "ajudar a colocar o Rivoli dentro da cidade, abrindo-o a todos os públicos, fazendo com que esta programação sirva também de aperitivo daquilo que se vai passar no futuro".

Artistas optimistas
Carlos Costa, da direcção da Plateia, uma associação que reúne os artistas da região Norte, está optimista.

"Ao que tudo indica, estamos a dar os primeiros passos para a reactivação desse programa de teatro municipal. Há uma grande expectativa, que não é só dos artistas, mas sobretudo da cidade", diz. "Esperamos todos que esta inauguração que vai acontecer esta semana seja o início de um novo Rivoli, do regresso do Rivoli."

A partir de Janeiro, quando Tiago Guedes tomar as rédeas do teatro municipal, a programação será distribuída pelos dois pólos da instituição: no Rivoli esperam-se espectáculos de companhias nacionais e internacionais; já no Campo Alegre há lugar para projectos "mais experimentais", nomeadamente das companhias da cidade.

Para manter o Rivoli e o Campo Alegre, o orçamento camarário dedicado à cultura terá de aumentar "de forma expressiva" (está actualmente nos 5% do bolo total), reconhece Paulo Cunha e Silva.

Haverá motivos para uma nova "Rivolição"? Não, a cidade está "apaziguada". "O futuro é tão excitante… porquê estar a falar do passado? Devemos concentrar-nos no futuro que é para lá que vamos e que estamos a caminhar."