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Nenhuma rua é demasiado estreita para um tuk tuk

28 ago, 2014 • Carolina Rico [texto] e Teresa Abecasis [imagem]

Para uns é uma vantagem, para outros, um grande problema. Em Lisboa, dezenas de tuk tuks levam turistas e não só em passeio pelas ruas e ruelas dos bairros históricos.

Nenhuma rua é demasiado estreita para um tuk tuk
Para uns é uma vantagem, para outros um problema. Em Lisboa, dezenas de tuk tuks levam turistas e não só em passeio pelas ruas e ruelas dos bairros históricos da cidade. A falta de regulação permite aos tuk tuk trabalharem praticamente sem regras.
Pelas ruas estreitas de Alfama, habitualmente sossegadas, agora passam dezenas de tuk tuks por dia. Estes veículos, típicos das grandes cidades da Índia e Sudoeste Asiático, surgiram em Portugal em 2012, mas tiveram um grande “boom” no início deste Verão.

Para Regina Borges, reformada, a passagem de tuk tuks mesmo à porta de sua casa, em Alfama, não são um problema. “Dá um movimento muito bonito ao bairro que de outra forma ficava morto. Os condutores são simpáticos, cumprimentam-nos e atiram beijinhos”.

Enquanto os turistas ficam surpreendidos pelo percurso, comentando que as ruas até que parecem ter sido feitas à medida destes triciclos motorizados, muitos moradores não estão contentes com o barulho e fumo deixados para trás.

É o caso de Rui Ferreira, que vê passar à porta de casa mais tuk tuks do que gostaria. “É de mais, chegam a passar centenas de vezes por dia, uns atrás dos outros, até à noite”, e mesmo em frente à vizinha casa de fados, cujo espectáculo fica, diz, comprometido pelo barulho.

Para Regina Borges isto não é um problema, até porque, “os condutores desligam o motor ao descer a rua”.

Em contacto com o bairro
O respeito pelos moradores dos bairros históricos é um dos valores muito defendidos pela Tuk Tuk Lisboa, cuja passagem da pelas ruas de bairros históricos, habitualmente interditas ao trânsito, foi autorizada pela Câmara Municipal de Lisboa.

“Mouraria, Alfama e Castelo, são os bairros mais solicitados, não só pela antiguidade mas como uma forma de contornar as dificuldades de acesso e permitir aos turistas chegar a lugares que não conheceriam de outra forma”, explica Pedro Abreu, coordenador da empresa.

“Felizmente tivemos aceitação dos moradores, com quem estamos em permanente contacto, e até ajudámos a dinamizar o mercado local, recomendando restaurantes e comércio tradicional mais escondidos”.

Quanto ao barulho, “até dá uma adrenalina extra ao passeio, mas se tivermos soubermos que algum morador está doente, por exemplo, evitamos passar na sua rua”, conta Pedro Abreu.

Nem todos os tuk tuks fazem barulho. Também existem veículos eléctricos, pertencentes a uma empresa concorrente, uma das muitas a adoptar a ideia pioneira da Tuk Tuk Lisboa.

Fora de circuito e em cima de passeios
O Turismo de Portugal não sabe ao certo quantos destes veículos há em Lisboa, mas a Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL) estima que existam 173. A grande maioria empresas, diz esta associação, não está registada e costuma cometer infracções.

“Não estamos contra os tuk tuks, estamos é contra o facto de estacionarem em cima de passeios e não sofrerem consequências quando as autoridades têm tolerância zero para com os taxistas”, denuncia Florêncio Almeida.

A Câmara Municipal de Lisboa está a preparar, através da Direcção de Mobilidade e Transportes, um regulamento que enquadre a actividade dos tuk tuks, mas Florêncio Almeida acredita que a autarquia tenha “começado as obras pelo telhado” ao autorizar alguns e ignorar outros.

O presidente a ANTRAL reconhece que a actividade representa um “mercado inovado, com todo o direito de operar” mas dá conta de uma série de irregularidades que os taxistas fazem chegar à associação através de fotografias.

“Já foram vistos tuk tuks na Ponte 25 de Abril e em Cascais, só falta irem para Espanha”, comenta Florêncio Almeida. A associação teme que os tuk tuks estejam a praticar “concorrência desleal” em relação aos táxis, uma vez que os turistas desconhecem os preços praticados pelos vários serviços de transporte.

A Tuk Tuk Lisboa oferece vários circuitos turísticos pré-definidos, mediante reserva ou recolha de turistas na rua, mas também dá oportunidade ao cliente para escolher o seu próprio itinerário. O passeio vai dos 60 euros, por uma hora, aos 100, por três horas.

Durante o trajecto, o condutor faz paragens em locais icónicos e vários miradouros, contando pequenas curiosidades sobre a cidade a turistas e não só. Cerca de 40% clientes são portugueses, que aproveitam para “conhecer a cidade de outra forma”, como explica Isabel Rodrigues, reformada e lisboeta, no fim de um passeio.