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Cavaco Silva rendido ao "génio literário" de Sophia

02 jul, 2014

Presidente destaca "grandeza cívica e humana" da poetisa que está a partir de agora no Panteão Nacional.

Cavaco Silva rendido ao "génio literário" de Sophia
Na cerimónia de trasladação de Sophia de Mello Breyner Andresen para o Panteão Nacional, Cavaco Silva e Assunção Esteves recordaram a escritora e poetisa. Cavaco Silva enalteceu o "génio literário" e a "grandeza cívica e humana" de Sophia, assim como a sua importância para a literatura portuguesa. Assunção Esteves afirmou que dar a Sophia honras de Panteão "constitui uma das maiores honras" do seu mandato.

O Presidente da República lembrou esta quarta-feira o "génio literário" e a "grandeza cívica e humana" de Sophia de Mello Breyner Andresen, durante a cerimónia de trasladação da escritora e poetisa para o Panteão Nacional, em Lisboa.

Cavaco Silva afirma que, com a morte de Sophia, há dez anos, "desapareceu uma das personalidades mais carismáticas da nossa literatura contemporânea", mas "também uma cidadã exemplar, um modelo de rectidão moral e uma referência ética da sociedade portuguesa". 

Sophia de Mello Breyner, referiu o Presidente da República, “foi grande pela harmonia e a aura dos seus versos, mas foi igualmente grande pela inteireza do seu carácter”.

“Ambas as dimensões - a literatura e a vida - constituem na sua biografia dois ramos da mesma árvore, firme e inabalável. Era como escrevia e escrevia como era: autêntica, inteira na escrita e na coragem da defesa da justiça e da liberdade", afirmou. 

"Um verdadeiro marco na língua portuguesa"
Para o Presidente, a obra de Sophia "impõe-se hoje em dia como um verdadeiro marco na língua portuguesa". 

"Em qualquer dos países onde se fala ou se ensina a nossa língua, os seus poemas são conhecidos e os seus contos são exemplares: no título, na exactidão das palavras e na sobriedade do estilo. Sophia é unanimemente considerada um clássico. Enquanto modelo de bem escrever, ombreia com os maiores poetas e prosadores que ao longo dos séculos fizeram do português uma língua de cultura", declarou.  
 
Cavaco Silva considerou que "a sua voz foi ao mesmo tempo moderna e antiga na ligação às raízes portuguesas, gregas, cristãs", sendo Camões o "poeta maior, em quem Sophia de Mello Breyner se revê". "Mas Camões é também para Sophia o testemunho de um país onde o poeta foi vítima de invejas e calúnias. Um país 'que tu chamaste e não responde/ País que tu nomeias e não nasce'", citou. 
 
"É contra esse país do silêncio e da injustiça que Sophia vai erguer a sua voz, serena mas nem por isso menos veemente, ansiosa por ver raiar no horizonte 'o dia inicial inteiro e limpo', que tanto a empolgou no momento em que a liberdade foi restaurada", declarou, citando o poema "25 de Abril". 
  
"Símbolo colectivo"
O Presidente referiu-se a Sophia de Mello Breyner Andresen como sendo "dotada de uma intuição e uma sensibilidade raras", lembrando que "além de poeta, foi também uma excepcional prosadora, em particular nos contos infantis, como 'A Menina do Mar', ou 'O Cavaleiro da Dinamarca', textos admiráveis com que milhares de crianças tiveram o primeiro contacto com a literatura portuguesa". 
 
"Homenagear Sophia de Mello Breyner Andresen é um gesto a que se associam as várias gerações de portugueses, irmanados na língua comum, que hoje partilhamos com mais sete povos independentes", afirmou. "Hoje, como no futuro, temos de ser dignos da pátria que ela sonhou e pela qual tanto se bateu, com coragem e com palavras que ficarão para sempre na nossa memória colectiva", concluiu o Presidente.

No elogio fúnebre à poetisa, José Manuel dos Santos, membro da Academia Nacional de Belas Artes, afirmou que "a concessão das honras de Panteão Nacional a Sophia de Mello Breyner faz da sua memória um símbolo colectivo".

Já a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, lembrou Sophia como poetisa, mas também "nos caminhos da política feita com alma", na luta contra a ditadura do Estado Novo e como deputada constituinte.