02 jun, 2014
Portugal vai ter em breve uma associação de "chestertonianos". A iniciativa é de um grupo de amigos que "têm admiração e fascínio" pelo autor britânico G. K. Chesterton (1874-1936) e quer "dinamizar iniciativas que façam conhecer o autor em Portugal", avançou, à Renascença, uma das promotoras, Maria do Rosário Lupi Bello.
A revelação foi feita na última quinta-feira num colóquio sobre Chesterton, na Universidade Católica, em Lisboa, para assinalar os 140 anos do nascimento do ensaísta, poeta, jornalista e pensador cristão.
"Chesterton ainda não é muito conhecido pelo grande público e o seu valor literário, humano e pensamento merecem ser trabalhados e trazidos a lume", diz a professora universitária de literatura e cinema.
O nome da associação ainda não está definido, mas o objectivo já: criar "um lugar de convívio, de ideias, de debate, de boa disposição, preferencialmente à roda de umas boa cervejas e de umas charutadas e cigarradas, bem ao estilo de Chesterton".
O grupo que está a levar o projecto para diante é constituído por pessoas muito diferentes: há um físico, uma tradutora, uma médica, um comunicador, um matemático e uma professora de literatura.
"Revolução chestortoniana"
Um dos oradores presentes no colóquio foi Tiago Cavaco, pastor da Igreja Evangélica Baptista, músico e "blogger".
Quer participar na constituição da "sociedade chestertoniana portuguesa", bem como "em todas as iniciativas que sirvam para tornar Chesterton mais conhecido, acessível e popular".
A primeira vez que leu o autor de "Ortodoxia" foi há pouco mais de dez anos. "Foi uma leitura que, sem exagero, mudou a minha vida", diz. "Tornou-se um dos meus autores de cabeceira."
"A nossa sociedade é especialista em separar". Tiago Cavaco dá a solução para unir: "há uma revolução chestortoniana que todos nós precisamos".
"O que é emocionante em Chesterton é que apercebemo-nos, às vezes com arrepios, que aquilo que nós julgávamos que é novo é muito mais antigo do que nós. Chesterton ensina-nos que o nosso lar é o universo", elabora.
Gilbert Keith Chesterton escreveu mais de cinco mil ensaios sobre os assuntos mais díspares. Converteu-se ao catolicismo em 1922, quando tinha 48 anos.
Nos anos 80 alguns católicos, incluindo bispos, tentaram abrir a causa de beatificação de Chesterton, mas sem sucesso. Em Agosto de 2013, o bispo de Northampton (a sua terra-natal) anunciou que se estavam a dar os primeiros passos nesse sentido.
A médica neonatal Maria João Lage, que também participou no colóquio, define Chesterton como "um pensador completo" e "absolutamente centrado na verdade".
Maria João Lage lembra que Chesterton afirmava: "Deus gosta muito das pessoas normais, porque fez imensas". "Chesterton gostava das pessoas normais porque lhe faziam ver a realidade, e a realidade lembrava-lhe Deus e lembrar-se de Deus tornava-o humilde e agradecido".
Francisco é fã
No Vaticano não há uma "sociedade chestertoniana" ou uma "liga de amigos do autor". Mas no coração da Igreja habita um "chestertoniano" de peso: o Papa Francisco.
Segundo Maria João Lage, "o Arcebispo Bergoglio, em Buenos Aires, poucos dias antes de se tornar Papa, aprovou a tradução argentina da oração para devoção privada para a canonização de Chesterton."
O Papa, em 2005, "tinha sido o 'chairman' da grande conferência sobre Chesterton na Argentina, com 500 participantes". E o livro de Chesterton sobre São Francisco é um dos "livros preferidos" do Papa.