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Mirandês fora de portas

17 mai, 2014 • Olímpia Mairos

É constituída este sábado a Associação de Língua e Cultura Mirandesa. O novo organismo tem como missão a promoção e divulgação do mirandês e da sua vertente cultural para além do concelho de Miranda do Douro.

Pela primeira vez na sua história, a língua e a cultura mirandesas vão dispor de um organismo para a sua promoção e divulgação, dentro e fora do seu espaço geográfico. A Associação de Língua e Cultura Mirandesa é apresentada este sábado na vila de Sendim, no concelho de Miranda do Douro.

“Este novo organismo pretende ser uma ‘pedrada no charco', para que se possa dar um passo em frente no domínio da língua e da cultura mirandesa”, afirma o investigador e escritor da língua e cultura mirandesas, Amadeu Ferreira.

Um dos objectivos da nova associação é “alargar” o estudo da língua mirandesa e da sua vertente cultural e de ensino para além do concelho de Miranda do Douro.

“Queremos englobar nesta nova associação todos concelhos de área de Trás-os-Montes que têm uma forma de cultura similar à mirandesa”, explica o investigador à Renascença, acrescentando que, do ponto de vista da promoção linguística do mirandês, pretendem, “para além do concelho de Miranda do Douro, englobar aquilo que foram os falares leoneses na região trasmontana”.

A Associação de Língua e Cultura Mirandesa quer também preencher a lacuna da inexistência de uma fundação ou instituto da língua mirandesa, um sonho de investigadores e autarcas locais que não se concretizou, segundo Amadeu Ferreira, “muito por falta de vontade política”.

“Houve muito esforço da minha parte e de outras pessoas para se criar uma fundação ou instituto da língua mirandesa. Porém, os políticos só ligam àquilo que querem e convenceram-se que o mirandês não lhes dava votos”, critica Amadeu Ferreira.

“Os políticos nunca quiseram saber do mirandês para nada, quer os nacionais, quer os locais. Até agora, apenas se oficializou o mirandês pela mão do então deputado socialista Júlio Meirinhos, mas tudo isso passou e pouco ou nada se fez”, constata Amadeu Ferreira.

O direito a preservar e promover a língua mirandesa, enquanto património cultural, instrumento de comunicação e de reforço de identidade da terra de Miranda, é reconhecido pela lei n.º 7/99, de 29 de Janeiro.

O ensino do mirandês, como opção, nas escolas do concelho de Miranda do Douro é ministrado desde o ano lectivo 1986/87, por autorização do Ministério da Educação.

Em 2008, foi estabelecida uma convenção ortográfica, patrocinada pela Câmara de Miranda do Douro e levada a cabo por um grupo de linguistas, com vista estabelecer regras claras para escrever, ler e ensinar o mirandês, bem para como estabelecer uma escrita o mais unitária possível e consagrar o mirandês como a segunda língua oficial em Portugal.