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António Pedro Vasconcelos quer intelectuais a “dar a cara”

03 mai, 2014 • Maria João Costa

O realizador considera que o que se está a passar com a televisão e com o cinema em Portugal é uma calamidade. João Tordo mostra-se preocupado com o “lado perverso” das redes sociais.  

António Pedro Vasconcelos quer intelectuais a “dar a cara”
antonio pedro vasconcelos
O realizador António Pedro Vasconcelos afirmou na noite de sexta-feira, na Renascença, que está a criar um movimento para que os intelectuais portugueses dêem a cara por causas importantes.

Entrevistado no programa Ensaio Geral, da Renascença, gravado ao vivo na Livraria Ferin, o cineasta fala da actual situação do país e do cinema. 

Vasconcelos defende que, para travar a actual situação de crise, as pessoas que têm reconhecimento público devem unir-se em defesa de algumas causas: “Neste momento, faço uma confidência: estou a criar um movimento, que tenciono chamar 'Dar a Cara', cujo objectivo é pedir a pessoas com algum protagonismo para darem a cara por causas concretas e travar esta barbárie”.
 
“Nós, intelectuais, quanto mais reconhecidos formos pelas pessoas, mais responsabilidades temos para com elas, sobretudo em alturas como esta", sustenta.

Com um filme em pós-produção para estrear em Setembro, António Pedro Vasconcelos diz que não sabe se terá nova possibilidade de rodar uma longa-metragem. O realizador de “Os Imortais” denuncia um sentimento de impotência da população portuguesa perante as dificuldades: “Sinto uma espécie de pudor a falar dos problemas do cinema quando há pessoas com fome, sem trabalho, sem dar de comer aos filhos e a ter de emigrar. O que se está a passar neste país, o cinema é uma pequena parte, embora para mim seja tudo, porque as possibilidades de eu fazer filmes nesta altura é zero".

“É uma calamidade o que se está a passar no cinema e na televisão, mas acho é que o que estão a fazer a este país é que é uma coisa de que não há memória. Há dias dei uma entrevista em que disse que a democracia faliu. É uma frase forte, mas é um sentimento que eu tenho”, considera.

O "assustador" lado das redes sociais
Já o escritor João Tordo, também convidado para do Ensaio Geral, falou do “lado perverso” das redes sociais.

O autor, que foi recentemente alvo de um fenómeno viral nas redes sociais quando publicou uma carta dedicada ao seu pai, o músico Fernando Tordo que decidiu emigrar para o Brasil, diz que estas redes estão a tornar-se num veículo assustador de ódio e raiva no actual contexto de crise.

O autor de “A Biografia Involuntária dos Amantes” explicou porque tem preferido manter-se afastado das redes sociais: “As redes sociais hoje têm um lado muito benéfico, de passarem a informação depressa e de conseguirmos chegar a pessoas que não conhecemos, quase instantaneamente, mas depois têm um lado perverso, é que por detrás desse anonimato as pessoas sentem-se no direito de vilipendiar as outras, de proferir insultos gratuitos, deitar abaixo. É algo que se compreende até certo ponto, porque as pessoas estão de tal maneira deprimidas pelo que está a acontecer que a única maneira de fazerem o luto dessa raiva é expô-la e muitas vezes tornam-se violentas.”

“Eu tenho evitado as redes sociais por causa disso, é assustador às vezes”, conclui.