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Filmografia de Páscoa

Cinema bíblico tem quase 100 anos de história

16 abr, 2014

A Renascença pediu sugestões sobre filmes de cariz bíblico a ver nesta Páscoa. Respondem Paulo Miguel Martins, Pedro Mexia e Vasco Brilhante.

Cinema bíblico tem quase 100 anos de história

Os filmes de cariz bíblico são uma tradição do período da Páscoa, embora haja uma tendência para sairem dos alinhamentos de progamação das televisões generalistas. O género, contudo, nunca passa "de moda".

A história do cinema bíblico é tão rica como a própria história do cinema. A primeira grande obra deste sub-género cinematográfico é situada pelos especialistas no ano de 1916, com o filme "Intolerance", de David Griffith. Passou quase um século.

Para Paulo Miguel Martins, investigador na área do cinema, este filme mostra uma "visível preocupação com temas bíblicos, não só do ponto de vista religioso, mas também do ponto de vista dos valores universais". Os anos 30, 40 e 50 do séc. XX foram especialmente ricos em filmes com esta temática, observa o investigador.

Ao longo dos anos, vai crescendo a videoteca de filmes inspirados na Bíblia. Regra geral, "estes filmes abordam a história toda e não têm grande distinção na abordagem a um só período bíblico" e "tendem a seguir o percurso biográfico de Cristo", assegura Pedro Mexía, poeta e crítico literário, acrescentando que "nuns predomina o espectacular e noutros o devoto".

A procura por este tipo de filmes tem sofrido oscilações e, por isso, as opiniões dividem-se. Se há quem considere este um género atractivo para o público, há também quem considere o contrário. Pedro Mexía entende que, "em geral, os filmes bíblicos são bastante interessantes", ao que Paulo Miguel Martins acrescenta: "Os filmes religiosos estão em alta. A religião deixou de ser um tema tabu, é um tema que interessa às pessoas. As pessoas gostam de saber e ouvir falar sobre o futuro, de onde vieram, para onde vão. Procuram o sentido da vida e aí as religiões têm algo a dizer".

As audiências são cativadas pelo tratamento de temas universais e transversais à vida das pessoas. "Estes temas universais tornam-se particulares quando as pessoas os vivem", garante Martins.

A "ditadura" do lúdico
Vasco Brilhante, crítico e especialista em cinema, acredita que "a profusão dos filmes de cariz religioso não impera", porque "hoje, impera muito mais um filme de pura diversão ou para a família. O interesse de ir ao cinema passou a ser puramente lúdico".

Para ilustrar a ideia, Brilhante usa uma analogia curiosa: "Ao longo da história do cinema, sempre houve uma comparação muito grande entre a ida ao cinema e a ida à missa. Ambas tinham este acto colectivo de ida. Ao longo do século XXI, o que se tem constatado é que ambas têm baixado radicalmente, no mundo ocidental, e isso talvez explique muita coisa".

Quando se fala do atractivo cinematográfico do período de Páscoa, as vozes são concordantes. A ressurreição tem uma carga dramática mais forte, os temas são mais espectaculares e mais emocionantes e isso é cinematograficamente bastante rico.  Paulo Miguel Martins explica que "tudo o que é emocionante está ali - o sangue, o castigo, a maldade, a crueldade, a inveja, a solidão… São temas que dizem respeito à humanidade".

Vasco Brilhante vai mais longe e diz que "a Bíblia é uma fonte inesgotável de temas e ideias" e "ainda há muito para explorar nessa matéria".

Ausências das televisões generalistas
Este ano, nenhum dos canais generalistas vai passar um filme de cariz religioso na época de Páscoa, algo que costumava acontecer. Para Vasco Brilhante, isso é um reflexo do desinteresse das grandes audiências por esse tipo de filmes: "A verdade é que o mercado se adapta sempre às pessoas".

As razões desta ausência estarão relacionadas com constrangimentos económicos, com as ofertas dos produtores e distribuidores para épocas específicas como a Páscoa ou, simplesmente, por razões editoriais (que, em algum momento, englobarão as razões atrás mencionadas). Contactadas pela Renascença, nenhuma dos grandes canais generalistas - RTP, SIC e TVI - forneceu até ao fecho desta edição a informação soliciotada.

Sugestões
Como não haverá filmes bíblicos em canal aberto, os especialistas deixam algumas sugestões para o dia de Páscoa. Pedro Mexía escolhe "A Palavra", de Carl Dreyer, ou um dos filmes de Andrei Tarkovski, que considera serem "filmes onde a grande porta do que se pode chamar a mensagem evangélica ou a visão do mundo do cristianismo está presente, mas que não são propriamente uma representação de cenas bíblicas".

Paulo Miguel Martins recomenda o já referido "Intolerance", de David Griffith, ainda "Ben-Hur" de William Wyler, "um filme que marcou gerações, quer pela espetacularidade com que foi realizado quer pela emoção que transmite" , e ainda "Paixão de Cristo" ,de Mel Gibson, "um dos mais recentes, que é obrigatório ver".

Vasco Brilhante, por seu turno,  recomenda "Os 10 Mandamentos", de Cecil B. DeMille, que classifica como "um filme monumental e notável. É um pouco como a Capela Sistina do cinema".