Tempo
|

Esplendores do Oriente no Museu de Arte Antiga

16 abr, 2014

Em finais de 1961, perante a iminente invasão de Goa pelas tropas indianas, o gerente do Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Goa preservou centenas de peças de joalharia guardadas no banco, enviando-as de barco para Lisboa.

Uma exposição com 392 peças de joalharia dos séculos XVIII e XIX, encerradas em cofres durante 50 anos, inaugura na quarta-feira no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, revelando o encontro entre o mundo hindu e cristão.

"Esplendores do Oriente - Jóias de Ouro da Antiga Goa" é o título desta exposição que inaugura às 18h30 na Sala do Torreão do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA).

Colares, pendentes, pentes-tiaras e outros ornamentos para o cabelo, anéis, pulseiras, escapulários, fivelas e outros objectos em ouro de "grande importância por documentarem a joalharia goesa dos séculos XVIII e XIX", segundo os comissários da exposição, Anísio Franco e Luísa Penalva.

O valioso conjunto de peças em ouro traz consigo uma história ligada à presença colonial portuguesa em Goa e às relações diplomáticas entre Portugal e a Índia. 
 
A 12 de Dezembro de 1961, perante a iminente invasão de Goa pelas tropas indianas, que aconteceria poucos dias depois, o gerente do Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Goa, Jorge Esteves Anastácio, decidiu preservar um conjunto de bens guardados no banco, enviando-o de barco para Lisboa. 
 
Parte dessa remessa era constituída por jóias depositadas por particulares, apreensões de contrabando, e cauções de pequenos empréstimos concedidos pelo BNU. A maior parte do espólio viria a ser entregue ao Estado indiano, em 1991, após o restabelecimento das relações diplomáticas com Portugal, e foi estabelecido um contrato entre o BNU e o State Bank od India, que recebeu cerca de meia tonelada do que se encontrava nos cofres. 
 
Após a fusão do BNU na Caixa Geral de Depósitos (CGD), foram analisados os bens que se encontravam na instituição bancária, e, passados 50 anos, em 2011, um grupo de trabalho que reuniu também o Ministério das Finanças e o MNAA abriu as caixas e ficou a ser conhecido o seu conteúdo. 
 
Numa visita guiada realizada esta terça-feira à exposição, o director do museu, António Filipe Pimentel disse que depois de ter sido reconhecida a importância histórica das peças, o conjunto foi incorporado no acervo do MNAA, que agora as mostra ao público pela primeira vez. 
 
"O processo de restauro foi longo e complexo devido ao estado das peças, mas a CGD também apoiou este processo", sobre a recuperação do conjunto ao longo dos últimos dois anos. 
 
Os comissários observaram que este trabalho de recuperação implicou uma larga investigação de joalharia da região de Goa, e recorreram a especialistas indianos. "Mesmo para eles foi difícil de identificar as peças porque a sua tipologia é muito específica da região e apresenta uma mistura de traços hindus e cristãos, como o Menino Jesus a dar a bênção", descreveu Luísa Penalva, acrescentando que um restauro no género "nunca tinha sido feito no país".   

"É uma descoberta extraordinária" salientou Anísio Franco, acrescentando que, devido ao seu valor, as peças já despertaram o interesse da comunidade museológica internacional, que também pretender mostrar o conjunto.

Jorge Esteves Anastácio, gerente do banco, e que decidiu enviar as peças para Lisboa, há 50 anos, tem actualmente 94, e foi convidado para a inauguração da exposição.  
  
"Esplendores do Oriente - Jóias de Ouro da Antiga Goa" inaugura na quarta-feira e ficará patente no MNAA até 7 de Setembro.