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Escritores moçambicanos na diáspora repudiam acordo ortográfico

30 jun, 2013

Moção vai ser enviada para a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, para o Instituto Camões e para os Ministérios da Educação de Portugal e de Moçambique.

Os participantes num encontro de escritores moçambicanos na diáspora aprovaram uma moção de repúdio do acordo ortográfico por "não ter em conta as especificidades" dos países que engloba, disse este domingo o presidente do círculo de escritores moçambicanos na diáspora.

"Para nós é uma decisão mais política, não tem em conta as especificidades de cada um dos países que compõem a comunidade de países de língua portuguesa e, neste caso, de Moçambique.”

“Nós temos uma forma própria de escrever, de falar o português e querem-nos tirar isso. Nós não aceitamos que nos imponham uma forma de escrita", explicou o poeta Delmar Maia Gonçalves à agência Lusa.

A moção foi aprovada no sábado, no final do VI encontro do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora, que durou três dias e que contou com perto de meia centena de participantes.

Assinalando que não fala pelos escritores que estão em Moçambique, Delmar Maia Gonçalves declarou-se, no entanto, convicto de que "grande parte deles não quer também este acordo ortográfico, não acredita nele, não se revê nele".

A moção considera o acordo ortográfico "muitíssimo prejudicial, visto que empobrece e desagrega o idioma de um modo geral, introduzindo ainda inúmeras incorrecções e incongruências exaustivamente apontadas já por filólogos portugueses e brasileiros, o que aliás motivou o recuo do Brasil na sua aplicação".

"Empobrece-nos completamente, nós já somos pobres, mas somos ricos em termos de línguas, nós temos outras línguas além do português e não se estão a lembrar disso", insistiu o escritor, de 44 anos.

Segundo Delmar Maia Gonçalves, a posição tomada "já tardava", até porque os escritores moçambicanos em Portugal têm acompanhado a situação no país "em que reina uma certa confusão".

"Em Portugal há espaços que não respeitam o acordo, que não usam a grafia definida, depois há outros que já usam. Não faz sentido nenhum, é uma confusão completa, uma baralhação", disse.

A moção vai agora ser enviada para a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, para o Instituto Camões e para os Ministérios da Educação de Portugal e de Moçambique, disse ainda à Lusa o autor de "Moçambiquizando" e de "Inquietação", que está em Portugal desde 1987.