Morte de mulher grávida reacende debate sobre aborto na Irlanda
22 nov, 2012
O caso de Savita Halappanavar está a ser aproveitado pelos defensores do aborto para criticar a lei irlandesa, mas os detalhes da sua morte ainda estão por esclarecer.
Os bispos irlandeses reafirmaram esta semana os ensinamentos da Igreja sobre o aborto provocado, em reacção às manifestações e criticas que têm surgido tanto no país como do exterior acerca das leis restritivas da Irlanda.
Em causa está a morte de Savita Halappanavar, uma jovem mulher hindu de origem indiana que morreu num hospital por complicações derivadas de uma septicémia. A infecção terá sido causada pelo aborto espontâneo que estava a ter quando foi conduzida ao hospital.
De acordo com a cobertura jornalística inicial, Savita e o seu marido pediram aos médicos para salvar a sua vida mas estes teriam respondido que o feto ainda tinha um batimento cardíaco e por isso não podia ser abortado, justificando-se com a desculpa de que a Irlanda é um país católico.
As primeiras notícias levaram imediatamente à convocação de manifestações a favor da mudança da lei do aborto na Irlanda.
Mas os bispos católicos responderam às críticas esta semana reafirmando o ensinamento católico. Segundo o documento: “Embora o aborto seja a destruição intencional e directa de um bebé nascituro e seja imoral em todas as circunstâncias, há uma diferença entre isto e tratamentos médicos que não tenham por intenção pôr fim à vida do bebé directamente”.
Este ensinamento católico, conhecido como a lei do duplo efeito, permite por exemplo retirar-se o útero de uma mulher grávida que sofra de cancro nesse órgão, mesmo que ela esteja grávida. A intenção não é abortar o bebé, mas esta é uma consequência secundária e inevitável de uma medida que tem por intenção salvar a vida da mãe.
Embora os factos ainda estejam a ser apurados, tendo sido aberto um inquérito à morte de Halappanavar, os dados iniciais parecem indicar que uma intervenção para salvar a vida da mãe, mesmo que isso implicasse um aborto, não entrariam em choque nem com os ensinamentos católicos nem com a lei do país, que permite o aborto em casos muito restritos como, por exemplo, salvar a vida da progenitora.
Os bispos e os movimentos pró-vida da Irlanda acusam os media e os movimentos favoráveis à liberalização do aborto, de estarem a manipular uma “história de tragédia pessoal” para ganhos políticos e recordam que apesar da restrição da lei, a Irlanda continua a ser dos locais mais seguros do mundo para se ser mãe.
“A Irlanda, sem aborto, permanece um dos países mais seguros do mundo para se estar grávida e dar à luz. Esta é uma posição que deve continuar a ser valorizada e fortalecida no interesse das mães e das crianças por nascer na Irlanda”, pode ler-se no documento dos bispos.
A taxa de mortalidade maternal na Irlanda é de 4.1 para cada 100,000 nascimentos, um dos valores mais baixos da Europa.