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Igreja de Inglaterra rejeita mulheres bispo

21 nov, 2012 • Filipe d’Avillez

Medida foi chumbada por seis votos na câmara dos leigos. Primeiro-ministro, actual Arcebispo de Cantuária e o seu sucessor mostraram-se muito desiludidos.  

Igreja de Inglaterra rejeita mulheres bispo
A Igreja de Inglaterra rejeitou ontem à noite uma medida que permitiria a ordenação de mulheres para o episcopado. Naquela Igreja, que é a mais antiga da comunhão anglicana, já existem mulheres no sacerdócio desde 1994.

Este tipo de decisão requer a aprovação por dois terços do sínodo, com uma maioria de dois terços em cada câmara, dos bispos, do clero e dos leigos. Apesar de mais de três quartos dos membros do sínodo se terem manifestado a favor, faltaram seis votos entre os leigos para ultrapassar a fasquia, deitando assim por terra o projecto de permitir a ordenação de mulheres bispo. Segundo as regras internas da Igreja Anglicana, a proposta não pode voltar a ser discutida durante os próximos cinco anos.

Os opositores à eleição de mulheres para o episcopado são da ala conservadora da Igreja Anglicana, tanto evangélicos como os que são conhecidos como anglo-católicos. Esta ala já tinha exigido uma medida que permitiria que dioceses e paróquias que não aceitam mulheres bispo pudessem ver salvaguardada a sua objecção, sendo supervisionadas por um bispo conservador do sexo masculino.

Enquanto os liberais acreditam que as ordens sagradas devem estar abertas a todos, alguns anglicanos conservadores partilham da posição da Igreja Católica, de que a Igreja não tem autoridade para ordenar mulheres uma vez que Jesus apenas escolheu homens como seus apóstolos.

Desilusão e revolta
A reacção dos líderes da Igreja de Inglaterra tem sido de profunda desilusão. O actual Arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, já tinha dito que este era um assunto que gostaria de ver resolvido antes de resignar no dia 31 de Dezembro e o seu sucessor, o bispo Justin Welby, que será entronizado em Cantuária em Março de 2013, mostrou-se muito incomodado pela decisão do sínodo.

Rowan Williams disse mesmo que a Igreja tem de se justificar: “Sejam quais forem as razões por detrás da votação de ontem e os princípios teológicos por detrás do comportamento e das palavras das pessoas, a verdade é que grande parte desta discussão não é compreendida pela sociedade. Pior, transparece a ideia de que somos voluntariamente cegos em relação às tendências e prioridades da sociedade, por isso temos muito a explicar”.

“O resultado da votação de ontem é que, sem dúvida, perdemos uma boa parte da credibilidade que tínhamos junto da sociedade”, concluiu Rowan Williams.

Até o primeiro-ministro David Cameron comentou o assunto, dizendo que a vontade do Governo é deixar a Igreja tratar destas questões internamente, mas recordando que enquanto Igreja oficial do Estado ela responde perante o Parlamento e pode ser forçada a mudar a sua legislação se for preciso.

De facto já se coloca a possibilidade de poder suspender a isenção da Igreja Anglicana relativamente à lei de igualdade que está em vigor no Reino Unido. Sem essa isenção, que se presumia ser temporária até ser resolvida a questão das mulheres bispo, a Igreja pode ser condenada por discriminação laboral e ver-se obrigada a mudar as suas regras por via judicial.

A Igreja de Inglaterra é a mais antiga e influente das igrejas que compõem a Comunhão Anglicana. De estas já várias têm mulheres no episcopado, incluindo o Canadá, Austrália, Nova Zelândia e os EUA, onde a Igreja é mesmo presidida por uma mulher.