Da indústria petrolífera a líder dos anglicanos

O novo Arcebispo de Cantuária já terá sido escolhido. É Justin Welby, actual Bispo de Durham, segundo a imprensa inglesa, e poderá ser anunciado, formalmente, já amanhã.

A comissão que sugere à coroa o melhor candidato para ocupar o lugar levou mais tempo que previsto a chegar a uma conclusão, mas acabou por se decidir pelo Bispo de Durham. A confirmar-se a nomeação, será mais um passo numa ascensão meteórica de Welby que apenas foi nomeado bispo há um ano, depois de ter trabalhado na indústria petrolífera até 1987, altura em que sentiu um chamamento para o sacerdócio.

Justin Welby pertence à facção evangélica da Igreja Anglicana, que se caracteriza por ser liberal em termos litúrgicos, mas bastante conservadora em matérias morais e teológicos.

O actual Bispo de Durham é contra o reconhecimento do “casamento” entre homossexuais e faz uma leitura da Bíblia mais em linha com a tradição ancestral do Cristianismo do que a maioria das Igrejas Anglicanas em países ocidentais como os Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia.

O novo Arcebispo de Cantuária teve uma educação privilegiada e pode trazer para o cargo um importante conhecimento do mundo económico e financeiro. Durante os seus estudos teológicos, a sua tese questionava se as empresas podem, ou não, pecar, concluindo que a estrutura de uma empresa pode influenciar positiva ou negativamente as decisões tomadas.

“O emprego mais difícil do mundo”
A Comunhão Anglicana é a terceira maior do mundo cristão, a seguir à Igreja Católica e à Comunhão Ortodoxa bizantina, e tem cerca de 80 milhões de fiéis, espalhados pelo mundo.

O Arcebispo de Cantuária exerce uma primazia de honra sobre esta comunhão, mas não tem poder de jurisdição sobre as outras igrejas ou províncias, como são conhecidas, levando o actual detentor do cargo, Rowan Williams, a descrevê-lo como “o emprego mais difícil do mundo”. Williams disse também que o seu sucessor teria de ter a “constituição de um boi e a pele de um rinoceronte”.

Ao longo das últimas décadas, têm-se acentuado as clivagens no seio da Comunhão Anglicana, por questões morais e teológicas, incluindo a ordenação de mulheres para o episcopado, a visão da sexualidade humana e a interpretação das sagradas escrituras.

De um lado, estão as Igrejas liberais, entre as quais se destaca a americana, presidida por uma mulher, que ordena bispos em relações homossexuais e faz uma leitura bastante heterodoxa do Evangelho. Do outro, estão as Igrejas africanas, entre as quais se destaca a nigeriana, que tem cerca de 18 milhões de membros e é muito mais ortodoxa na sua teologia e prática cristã.

No meio deste cenário, encontra-se a Igreja de Inglaterra, internamente dividida entre conservadores e liberais e que está, actualmente, no processo de aprovar a ordenação de mulheres.