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Reino Unido

Cristãos preocupados com decisões judiciais no Reino Unido

02 mar, 2011 • Filipe d’Avillez

Uma série de veredictos põem em causa o lugar da Fé na sociedade britânica. A Renascença falou com Libby Blaxall, da Christian Legal Centre e dá conta da preocupação que reina no país.  


Nos últimos anos uma série de decisões judiciais tem levado a um crescente sentimento de alheamento e até de perseguição por parte dos cristãos no Reino Unido.

Na sequência de uma decisão de Terça-feira, em que um casal cristão perdeu o direito a acolher crianças vulneráveis, apesar de anos de experiência, por não apoiar um estilo de vida homossexual, a Renascença falou com Libby Blaxall, da Christian Legal Centre, que tem apoiado muitos dos cristãos envolvidos nestes casos, para saber exactamente o que se passa.


É verdade que o tribunal considerou que os valores cristãos do casal Johns os impede de acolher crianças?
O tribunal disse que neste caso há um conflito entre o direito à crença religiosa dos Johns, segundo a qual eles consideram que a prática de actos homossexuais não é o melhor caminho para uma criança, e o direito das pessoas expressarem a sua orientação sexual. O tribunal considerou que os direitos de orientação sexual têm precedência em relação ao direito a ter e a manifestar crenças religiosas.

E esta decisão não tem implicações mais alargadas? Certamente isto tornará impossível a adopção por parte de casais cristãos, ou sequer judeus ou muçulmanos convictos…
A decisão ainda não impediu ninguém de acolher ou adoptar, mas é uma mensagem clara que diz que a partir de agora será cada vez mais difícil para um cristão, ou qualquer pessoa com fé, acolher ou adoptar, mantendo as suas crenças religiosas. Estas irão entrar em conflito com o que diz o Estado, algo tem de ceder e querem que seja a fé.


E os cristãos estão preocupados com esta tendência judicial?
Os Cristãos estão preocupados há muito tempo, porque tem havido uma série de decisões em que a fé tem sido empurrada para segundo lugar, e normalmente isso ocorre quando os valores chocam com os direitos de orientação sexual.

Os tribunais devem procurar um equilíbrio sempre que os direitos entram em conflito, mas em vez disso têm dito repetidamente que os direitos de orientação sexual estão em primeiro lugar, esquecendo-se que os cristãos, e pessoas de todas as fés têm o direito de acreditar no que quiserem, e manifestá-lo, mas isso não tem sido respeitado pelos tribunais, há muitos anos que é assim no Reino Unido.

Mais recente de muitos…

O caso do casal Johns, que foi conhecido ontem, é apenas o mais recente numa já longa lista de aparente discriminação contra os cristãos.

Em Junho de 2009 uma enfermeira perdeu o seu emprego depois de se recusar a retirar um pequeno crucifixo que usa à volta do pescoço. Há anos que a enfermeira o usava, sem qualquer problema, até que a administração decidiu que o crucifixo entrava em conflito com as normas de segurança e higiene.

Noutro caso, em Fevereiro do mesmo ano, uma outra enfermeira foi suspensa quando se soube que se tinha oferecido para rezar por uma doente.

Recorde-se que desde Janeiro de 2009, quando foi legalizada a adopção por parte de casais homossexuais, todas as agências de adopção ligadas à Igreja Católica foram forçadas a fechar as portas, uma vez que se recusavam a considerar casais do mesmo sexo para adoptar as crianças ao seu cuidado.

Mais recentemente, um casal cristão foi condenado a pagar uma multa depois de ter recusado alugar um quarto a um casal homossexual.

Estes são apenas alguns exemplos que estão a levar os cristãos britânicos a questionar a identidade e o rumo do seu país.
Os juízes chegaram mesmo a dizer que não há lugar para o Cristianismo nas leis do Reino Unido. Como é que lidam com o facto do Reino Unido ter uma Igreja de Estado e das pessoas jurarem sobre a Bíblia, precisamente no tribunal?

Penso que nem tentaram lidar com essas questões. Tentaram seguir a aparente tendência social. Fazem estas declarações sem investigar as origens do Reino Unido e o facto de muitas das instituições que ainda temos no nosso sistema legal terem raízes cristãs. O que disseram vem no seguimento do que disse outro juiz, num caso nosso, de que as crenças religiosas são subjectivas e que não há espaço para elas e que é uma loucura pensar que o Estado as deva respeitar. Não foram estas as suas palavras exactas, mas foi este o significado.

Vão recorrer da decisão?
Vamos fazer os possíveis para alcançar a justiça neste caso, mas parece-nos cada vez mais que os tribunais não nos podem dar as respostas que procuramos, por isso vamos pedir um inquérito público para esta situação, porque é de facto o mais recente de uma série de casos em que os direitos dos cristãos têm sido denegridos. Não aguentamos mais isto, se os tribunais não nos dão justiça, teremos que procurar noutro lado.

As igrejas estão-se a manifestar?
Precisamos que se façam ouvir! A Igreja neste país perdeu a sua voz em muitas áreas há algum tempo, e penso que isto tem servido para os acordar para a realidade. A Igreja deve defender a integridade, se não o fizerem mais ninguém o fará. Esperamos que isto os leve a agir e a erguer a voz, para que pessoas como os Johns possam continuar a acolher e a tomar conta de crianças vulneráveis.