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Morreu o Patriarca de um dos países cristãos mais antigos do mundo

16 ago, 2012 • Filipe d’Avillez

Abuna Paulos liderava a Igreja Ortodoxa da Etiópia, que poderia nem sequer existir se não fosse o filho de Vasco da Gama.

Morreu o Patriarca de um dos países cristãos mais antigos do mundo

Morreu esta quinta-feira, aos 76 anos, o Patriarca da Igreja Ortodoxa da Etiópia. As informações divergem, mas sabe-se que Abuna Paulos, como era conhecido, ter-se-á sentido mal ontem depois de uma celebração litúrgica, tendo sido levado para o hospital, onde acabou por morrer durante o dia de hoje. O seu título completo era “Sua Santidade Abuna Paulos, quinto Patriarca e Catolicós da Etiópia, Abade da Sé de São Tekle Haymanot e Arcebispo de Axum”.

Paulos foi eleito para chefiar a Igreja Ortodoxa da Etiópia, que tem perto de 45 milhões de fiéis, em 1992 e foi de extrema importância na recuperação das relações entre o Estado e a Igreja, que estavam praticamente de costas voltadas desde o golpe que pôs fim à monarquia, em 1974. Foi eleito bispo em 1975, logo após a implantação da república comunista, mas foi preso juntamente com três outros recém-ordenados bispos e o Patriarca de então, porque a nomeação carecia da aprovação do Derg, a junta comunista que governava o país. O Patriarca foi mesmo executado pelos militares. Quando saiu novamente em liberdade voltou para os EUA para acabar os seus estudos. Antes de ser eleito Patriarca foi ainda responsável pelas relações ecuménicas da sua Igreja.

Já no trono patriarcal acabou por ver a Igreja dividida quando foi declarada a independência da Eritreia, tendo permitido o estabelecimento de uma Igreja própria naquele país, mas sempre se manteve activo na promoção da paz entre os dois Estados.

A Etiópia é o país cristão independente mais antigo do mundo. A Igreja da Etiópia está muito ligada à Igreja Copta, do Egipto, da qual apenas ganhou independência formal em 1959, passando a ter um Patriarca próprio. Paulos foi o quinto a ocupar esse posto.

Juntamente com a Igreja Copta, a Arménia, da Eritreia e mais algumas, a Igreja Etíope pertence à comunhão Ortodoxa Oriental pré-calcedónia, que se separou tanto de Roma como de Constantinopla depois do Concílio de Calcedónia no século V. É a quarta maior comunhão cristã do mundo, depois da Católica, da Ortodoxa Bizantina e da Anglicana.

Relações com Portugal
Há uma longa história de colaboração entre os cristãos etíopes e os portugueses. Militares portugueses foram cruciais na manutenção da independência da Etiópia no século XVI, quando Cristóvão da Gama, filho de Vasco da Gama, liderou uma expedição de 400 homens para salvar o país cristão de invasão muçulmana. Os portugueses derrotaram os soldados islâmicos, mas Cristóvão da Gama perdeu a vida no combate.

Nessa altura houve boas relações e até intercâmbio de religiosos, mas quando os missionários católicos tentaram impor as suas práticas as autoridades etíopes acabaram por expulsar todos os ocidentais do país.

A morte de Abuna Paulos deixa duas das principais Igrejas africanas sem chefia, uma vez que ainda não foi eleito um sucessor para Patriarca da Igreja Copta, no Egipto, um processo que deverá ficar concluído até ao final do ano.