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Jovens muçulmanos menos religiosos que os seus pais, revela sondagem

10 ago, 2012 • Filipe d’Avillez

Russia é o único país em que os jovens são mais religiosos e Guineenses são dos que fazem uma leitura menos literal do Alcorão.  

Jovens muçulmanos menos religiosos que os seus pais, revela sondagem
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As gerações mais novas de muçulmanos são menos religiosas que as dos seus pais em quase todo o mundo islâmico, com excepção da Rússia.

Os dados são de uma sondagem da organização norte-americana "Pew Forum on Religion and Public Life", com sede em Washington, que envolveu mais de 38 mil entrevistas em 24 países.

A disparidade geracional é maior nos países do Médio Oriente e Norte de África, com o Líbano a apresentar uma diferença de 29 pontos percentuais entre os jovens dos 18 aos 35 anos e os mais velhos quando inquiridos sobre a importância da religião nas suas vidas. 71% dos libaneses mais velhos dizem que a religião é muito importante, contra apenas 42% dos jovens.

Nos outros países desta região a diferença é menor, 12 pontos percentuais na Palestina, 9 na Tunísia e 6 no Iraque, mas há uma importante disparidade em relação ao Líbano, uma vez que em todos os restantes países uma maioria esmagadora dos jovens continua a dizer que a religião é muito importante, incluindo 80% na Palestina, 73% na Tunísia e 79% no Iraque. Em Marrocos, por exemplo, são 88%.

A única zona onde esta tendência se inverte é na Rússia, onde os jovens muçulmanos tendem a ser mais religiosos que os seus pais, mas em ambos os sectores demográficos menos de 50% define a religião como sendo muito importante para as suas vidas. 

Regiões onde dão mais importância à religião
As regiões do mundo em que os muçulmanos dão mais importância à religião são na Ásia e na África subsaariana, com pelo menos 80% a responder afirmativamente a essa questão, e os números a chegar aos 95% para os muçulmanos tailandeses, e 93% para os indonésios e malaios. O Paquistão e o Afeganistão também apresentam números muito altos, com 94 e 92% respectivamente.

Senegal, Gana, Camarões e Guiné-Bissau são os países africanos em que o Islão tem mais importância, sempre acima de 95%.

Nos países europeus de maioria islâmica menos de metade dos inquiridos dá grande importância à religião, incluindo o Kosovo com 44%, a Bósnia-Herzegovina com 36% e a Albânia com 15%, o valor mais baixo de todos os países em que se realizaram entrevistas, com apenas o Cazaquistão, com 18%, a aproximar-se.

A sondagem não apresentou grandes diferenças quanto ao sexo dos inquiridos, com apenas alguma variação na frequência das mesquitas, mas que se pode explicar por questões culturais e não de crença.

Guiné entre os mais tolerantes
O estudo da "Pew Forum" também tem dados interessantes no que diz respeito às diferenças sectárias entre correntes do Islão. Os analistas descobriram que nos países em que xiitas e sunitas convivem em maior número, nomeadamente no Líbano e no Iraque, a tolerância é maior, com maiorias de sunitas a considerar que os xiitas são muçulmanos. Pelo contrário, no resto da região, pelo menos 40% dos sunitas recusam atribuir esse adjectivo aos xiitas, com o Egipto e Marrocos a apresentar valores de 53 e 50% respectivamente.

Num dado curioso para o mundo de língua portuguesa, a Guiné-Bissau, o único país lusófono com uma maioria muçulmana, revela uma significativa tolerância no que diz respeito à interpretação dos textos sagrados do Islão. Apenas 59% dos muçulmanos guineenses dizem que o Alcorão deve ser interpretado de forma literal, o número mais baixo de todos os países inquiridos, com excepção do Congo, com 54%.

O "Pew Forum" indica que estes números da Guiné e do Congo aproximam-se de valores encontrados entre os muçulmanos dos Estados Unidos, revelados noutros estudos, uma vez que os EUA não constam desta sondagem em particular.

Outro país que está ausente desta sondagem é o Irão, um dos mais influentes países do Médio Oriente e a grande potência xiita a nível mundial. Fonte  da Pew Forum contactada pela Renascença explicou que por restrições das autoridades iranianas não foi possível fazer entrevistas aos inquiridos daquele país.

[Notícias actualizada às 15h47]