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“Jovens são cada vez mais os menos religiosos”

13 jul, 2012 • Filipe d’Avillez

Sociólogo estudou a religiosidade dos universitários. Médicos e engenheiros civis são os mais católicos, biologia e relações internacionais têm mais ateus.  

A religiosidade católica entre os jovens universitários foi o objecto do estudo do sociólogo José Maria Pereira Coutinho. Entre várias conclusões, o investigador pôde confirmar que há uma percentagem de 25% de ateus e agnósticos nesta população, substancialmente acima da média nacional.

“Estamos a falar de uma população jovem, universitária, maioritariamente entre os 20 e os 21 anos, em vias de finalização académica. Hoje em dia não é como antigamente em que a religião era vista como ciclo de vida, aumentava até à adolescência, depois diminuía até aos quarenta e tal anos e depois voltava a subir. Agora há um crescendo desde a adolescência até à velhice e os jovens são cada vez mais os menos religiosos”, explica, em entrevista à Renascença.

Vários factores contribuem para esta realidade, mas a erosão do conceito de família tradicional é fundamental.

“A erosão da família tradicional no mundo, mas principalmente no contexto europeu e mais concretamente no contexto português, leva a uma propensão para os jovens serem menos religiosos, porque sabe-se que a socialização religiosa passa em primeiro lugar pela família e principalmente pelas mães.”

“O facto de as mães estarem cada vez mais integradas no mercado de trabalho leva a que os jovens não tenham o acompanhamento de socialização religiosa que antigamente tinham”, diz José Maria Pereira Coutinho.

Mas o conceito moderno de lazer também afasta da religiosidade: “Em termos de lazer, o lazer cada vez puxa mais para o prazer e não tanto para a introspecção, fundamental para o crescimento religioso.”

Apesar destes factores, cerca de 26% dos 500 inquiridos pode ser classificado como católicos nucleares, isto é, pessoas para quem a religião é o centro das suas vidas. Para estes, segundo os inquéritos, os aspectos da vida religiosa a que dão mais importância são o reconhecimento no Papa enquanto sucessor de São Pedro, o conceito de pecado, o Céu e a crença na vida depois da morte.

Médicos crentes, biólogos ateus
O sociólogo explica ainda que existem padrões entre as diversas áreas de ensino nas universidades: “Os mais religiosos são os de engenharia civil, do Técnico, e de medicina; e os menos religiosos são os de ciências, neste caso de biologia, da Faculdade de Ciências e das ciências sociais, principalmente os de relações internacionais da Faculdade da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Nova.”

Entre homens e mulheres, poucas surpresas: “As raparigas são mais religiosas que os homens, isso vem ao encontro de vários estudos”, explica.

Um outro factor curioso, diz José Maria Pereira Coutinho, é que a nível de socialização, os universitários tendem a escolher os amigos com base nas suas próprias crenças e valores: “As respostas foram claras. Para os católicos praticantes, os amigos mais chegados eram católicos praticantes, para os não praticantes eram também não praticantes e com os ateus e agnósticos eram ateus e agnósticos. Há uma identificação nítida”, confirma.