11 jul, 2012 • Filipe d’Avillez
O sínodo geral da Igreja Anglicana viu-se obrigado a adiar a votação sobre a legislação que permitirá a elevação de mulheres ao episcopado.
Após anos de negociações e preparação, a questão foi reagendada para Novembro, no que constituiu um embaraçoso revés para a hierarquia.
A medida parecia destinada a fracassar a partir do momento em que os grupos que mais fizeram campanha pela inclusão de mulheres no episcopado anunciaram que iriam votar contra a proposta, em protesto contra a linguagem usada.
A vasta maioria das dioceses anglicanas é favorável à nomeação de mulheres para o episcopado, mas algumas paróquias mais tradicionalistas recusam reconhecer a validade das ordens femininas. Para apaziguar estes grupos, a hierarquia propunha que, futuramente, em dioceses lideradas por uma mulher, esta fosse obrigada a encontrar um bispo masculino para poder supervisionar essas comunidades.
A nova linguagem da proposta obrigava a que as mulheres bispo encontrassem, não só um homem, mas um homem com “convicções teológicas consistentes” com as da comunidade, isto é, um homem que não seja favorável à ordenação de mulheres, que não tenha sido ordenado por uma mulher e que nunca tenha ordenado uma mulher.
Perante a alteração, os grupos defensores da ordenação de mulheres bispo revoltaram-se, afirmando que a cláusula consagrava a discriminação e que seriam sempre consideradas “bispos de segunda”, pelo que ameaçaram votar contra a proposta. Para evitar que isso acontecesse, os bispos, embora atrasando o processo, optaram por adiar a votação para uma assembleia extraordinária a ter lugar em Novembro.
Mesmo nessa altura não é claro que a legislação seja aprovada. Embora a maioria de dois terços esteja quase garantida entre os bispos e os clérigos, poderá ser mais complicado conseguir esse valor entre a câmara dos leigos, que também tem voto na matéria.
Os anglicanos que se opõem à medida são os evangélicos, que tendem a ser conservadores e reconhecem a ordem bíblica de que a Igreja deve ser encabeçada por um homem, e os anglo-católicos. Estes, apesar de não se encontrarem em comunhão com Roma, identificam-se espiritual e liturgicamente com a Igreja Católica e, ou por não reconhecerem a validade das ordens femininas ou por temerem que a decisão torne impossível uma eventual reconciliação com Roma, não a querem ver aprovada.
O Arcebispo de Cantuária, o mais alto clérigo da Igreja de Inglaterra, que já tinha manifestado a sua vontade de ver a legislação aprovada, pediu desculpa ao sínodo pela forma como os bispos tinham tratado o assunto, levando a este impasse.